26.6.13

Escola "made in" Europa: do hámster à pista de tartã

por Ana Bela Ferreira, in Diário de Notícias

"A outra escola era velha e pequena. No recreio só podíamos jogar futebol ou basquetebol." Salomé compara a escola da aldeia com o novo Centro Escolar de Santa Margarida, em Constância, onde já anda há dois anos, enquanto lancha com os colegas no refeitório, um espaço que também é usado para eventos da freguesia.

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As diferenças são muitas e nem os colegas que têm de vir de autocarro trocavam as novas instalações com baloiços, campos de jogos, escorregas, mesas de ping-pong, laboratórios de ciências, de música e de expressões e até um hámster pela velhinha escola da sua aldeia. Tal como os 160 alunos do pré-escolar e 1.º ciclo deste centro escolar, um dos 702 construídos com recurso aos fundos comunitários, até 2011, milhares de alunos por todo o País deixaram as escolas da sua aldeia para se concentrarem na sede de freguesia ou até concelho. Neste caso, 80 alunos vêm de fora da aldeia sede da escola, mas as viagens são relativamente curtas: oito quilómetros.

Estas novas escolas que concentraram alunos e permitiram reduzir o número de professores levaram ao encerramento de mais de três mil escolas, nos últimos dez anos. A racionalização da rede ditou o fecho primeiro dos espaços com menos de dez alunos e depois dos que tinham menos de 20.

E dotados de "equipamentos ao nível das melhores escolas da Europa", reconhece a diretora do agrupamento de escolas de Constância, Anabela Grácia. Neste caso, o valor total da obra foi de 2,2 milhões de euros, dos quais 800 mil suportados pela autarquia. O centro, inaugurado em 2011, mas em construção desde 2009, reúne crianças de seis escolas (três do 1.º ciclo e três do pré-escolar), que encerraram.

Para acompanhar as novas mais-valias do espaço, os próprios professores "tiveram formação na área da experimentação das ciências", explica a diretora. A escola tem uma sala onde todos - do pré-escolar ao 1.º ciclo - podem fazer experiências e cada um tem o seu frigorífico para guardar os materiais. O silêncio do laboratório, que agora está vazio, porque as aulas já terminaram para os mais velhos, permite ouvir os mais pequenos do pré--escolar que ensaiam as músicas para a festa de fim de ano.

Apesar de partilharem alguns espaços, pequenos e graúdos dão-se bem. Mas a hora da brincadeira é separada: os mais novos brincam na parte superior do recinto e os mais velhos na parte inferior. Uma separação que agora também se nota nas salas de aula. "Tê--los separados por anos nas salas facilita o trabalho do professor. A resposta imediata ao grupo é melhor agora. Antes tínhamos alunos do 3.º ano a ouvir as coisas dos do primeiro e era mais complicado", explica a coordenadora da escola Ana Bela Inácio. Durante décadas foi a única professora da escola, agora não só tem colegas como os coordena. "Assim é mais fácil organizar atividades."

Mas se para professores, funcionários e alunos as novas escolas facilitam o trabalho e as aprendizagens, os pais foram mais difíceis de convencer. "Levantaram problemas porque estavam habituados a ir levar e buscar os filhos à escola, tinham receio de serem muitas crianças juntas e também não queriam que a escola da terra fechasse. Mas agora já fazem um balanço positivo", refere o autarca de Constância, Máximo Ferreira. As velhas escolas são agora espaços dos ranchos folclóricos, escuteiros e centros de atividades extracurriculares.