Abel Coentrão, in Público on-line
Procurado por mais de 16 mil utilizadores, o grupo fundado por João Figueiredo e alguns amigos em 2010 tornou-se numa ideia de negócio, que amanhã abre uma plataforma de gestão online das boleias.
Mais de 16 mil pessoas aderiram, desde o final de 2010, a um grupo fechado no Facebook destinado a pedidos e ofertas de boleias entre vários pontos do país, com destaque para o eixo Porto-Lisboa. O projecto Boleias Porto-Lisboa-Porto, que nasceu num pequeno grupo de amigos, cresceu a olhos vistos e, a partir de amanhã, 200 utilizadores vão poder testar a novíssima plataforma Um Coche de Carsharing, que poucos dias depois estará disponível para todos os utilizadores que pretendam partilhar os custos das deslocações.
Os pedidos e as ofertas são vários, todos os dias, e quase todos têm resposta. Mesmo quando parecem menos comuns. Na quinta-feira, por exemplo, alguém procurava uma boleia, entre Porto e Lisboa, para uma cadela a caminho da casa da protectora. Mas, no geral, quem frequenta o grupo é gente que se desloca pendularmente entre as duas cidades ou que, precisando de fazer uma deslocação esporádica, lança o apelo, a ver se encontra ajuda.
"Um coche" pode soar a carro mas, em várias zonas do país, é calão para se dizer "um bocado" de qualquer coisa. Pode ser, por isso, um pedaço de um carro, o suficiente para se levar alguém de um ponto a outro do país. Foi esta a ideia de João Figueiredo, 24 anos, portuense que terminados os estudos em Coimbra e Lisboa, na área da gestão desportiva, se pôs, a partir de Lisboa, a reunir a equipa e os meios para transformar o grupo que criou em 2010 no Facebook num projecto empresarial.
Juntou-se a Francisco Eduardo e David Pires, das áreas de Artes Plásticas e Design, e ao engenheiro informático Bernardo Simões. E andam numa roda-viva para estrear amanhã um projecto que entrou no programa de aceleração de start ups da Beta-I, uma associação de apoio a jovens empreendedores, e que entrou também na Start Up Lisboa, onde está a ser incubado. Pelo meio, recorreram ao crowdfunding, (outro estrangeirismo do economês moderno), que permite que múltiplas pessoas ou entidades financiem uma ideia de negócio, através da Internet.
Entre a azáfama dos últimos dias, João Figueiredo arranjou um "coche" de tempo para explicar o que será esta plataforma. Que, num primeiro momento, vai abrir-se apenas aos beta-founders, os 200 primeiros utilizadores que responderem ao desafio lançado no grupo do Facebook e que terão como missão testar as funcionalidades desta versão zero do site antes da sua abertura a toda a comunidade. O site será fechado e o registo, esse, terá de ser feito via Facebook, nota o gestor do projecto, argumentado que, assim, os utilizadores terão acesso aos dados do perfil dos participantes.
A plataforma gerará uma classificação dos utilizadores, que permite detectar experiências menos positivas. Embora, até agora, a equipa do projecto desconheça casos em que a organização da boleia (a cargo dos envolvidos) tenha corrido mal. Quem chega ao site para oferecer lugares no carro preenche um formulário com dados que são carregados num motor de busca, para quem anda de "dedo estendido" pela página.
Quem precisa de uma boleia pode indicar ponto de partida e chegada, dia e hora, e fica a conhecer a oferta disponível. Pode depois entrar num chat com o condutor, ou enviar-lhe mensagem privada. Pode também aceder a mais informações, como o tipo de carro, o espaço na mala ou outras condições para a viagem. Carregado o botão "reservar", e notificado o condutor, este pode aceitar ou rejeitar. Se aceitar, o candidato recebe um e-mail com os dados do percurso, incluindo um mapa.
Tal como acontece hoje no Facebook, todas as boleias têm um custo, definido pelo condutor. O Um Coche de Carsharing não se vai meter neste aspecto do acordo, que é resolvido informalmente entre as partes: alguém que pretende minorar os custos de uma viagem (num carro normal Porto-Lisboa custa 60 euros, em gasóleo e portagens), e alguém que, desta forma, pode fazer a deslocação por um preço muito convidativo.
Eventuais receitas do site advirão, assim, da publicidade que a equipa conseguir angariar. E João Figueiredo admite já ter tido contactos para alguns patrocínios. O dinheiro angariado através do crowdfunding serviu para o desenvolvimento do projecto e aquisição do espaço de alojamento no servidor.