Romana Borja-Santos, in Público on-line
Estudo olhou para os possíveis efeitos da crise nos suicídios em 2009 e encontrou subidas significativas na Europa e na América. No primeiro caso os jovens parecem ter sido mais afectados, no segundo foram os homens mais velhos
Não se pode falar numa relação directa de causa-efeito, mas os autores de um estudo que acaba de ser publicado no British Medical Journal alertam que em 2009, um ano depois de a crise ter estalado em vários países, o número de suicídios disparou tanto na Europa como na América. A nível europeu, a situação afectou sobretudo os jovens e, entre os americanos, os homens entre os 45 e os 64 anos.
O grupo de investigadores das universidades de Oxford e Bristol, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e da Universidade de Hong Kong analisaram dados de 54 países diferentes (Portugal não fez parte da amostra) para tentarem perceber os eventuais impactos da crise financeira e do colapso bancário e dos mercados em 2008 em termos de saúde mental.
Dos 54 países faziam parte 27 europeus, 18 americanos, oito asiáticos e um africano. Para isso foram utilizados dados de mortalidade da Organização Mundial da Saúde, do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças e do Fundo Monetário Internacional. Em relação ao desemprego, por exemplo, percebeu-se que em 2008 a taxa global cresceu 37%, enquanto o PIB baixou 3%.
Homens mais afectados que mulheres
De acordo com os números apurados, estima-se que em 2009 tenha havido quase mais 5000 suicídios do que o esperado tendo em conta os dados registados entre 2000 e 2007. Os investigadores registaram, contudo, diferenças entre a Europa e a América — apesar de em ambos os casos ter sido maioritariamente em homens e não em mulheres que o número aumentou.
Os suicídios cresceram nos 27 países europeus e nos 18 americanos. No caso da Europa, o crescimento foi de 4,2% (com um intervalo de confiança de 95%); na América foi de 6,4%. “Para as mulheres não houve mudanças nos países europeus e o aumento nos americanos foi menor do que nos homens (2,3%). O crescimento nos homens europeus foi maior naqueles com idades entre os 15 e os 24 (11,7%), enquanto nos americanos foram os homens entre os 45 e os 64 anos que mostraram maior crescimento”, lê-se no estudo.
“O crescimento nas taxas de suicídio nacionais parece estar associado à magnitude da subida do desemprego, particularmente em países com níveis baixos de desemprego antes da crise”, dizem os autores, que, contudo, alertam que faltam dados de alguns países onde a crise teve efeitos importantes e que também será fundamental ver os dados dos anos posteriores.
Além disso, os autores insistem que os dados a que chegaram são consistentes com outros estudos sobre aumento da prevalência de doenças como a depressão e a ansiedade na sequência da crise em países como Austrália, Grécia, Reino Unido ou Espanha. E sublinham que “a deterioração da saúde mental é particularmente observada naqueles que experienciam situações de instabilidade no emprego ou problemas financeiros”. “As nossas descobertas são consistentes com aumentos documentados de suicídios durante recessões passadas, como a Grande Depressão de 1930 e a crise na Rússia no início de 1990”, lê-se no estudo.
Segundo os dados da Organização Internacional do Trabalho, citados pelo El Mundo, em 2009 existiam 212 milhões de pessoas sem emprego — ou seja, mais 34 milhões do que em 2007.