18.9.13

Portugueses são os europeus que se consideram mais afectados pela crise

in iOnline

70% dos inquiridos portugueses também desaprovam a forma como o governo tem gerido a crise económica e quer cortes na despesa mas diverge nas áreas

Portugal é o país europeu onde a população se considera mais afetada pela crise económica, indica a 12.ª edição do inquérito internacional "Transatlantic Trends 2013", hoje divulgado, e que analisa 11 Estados-membros da União Europeia (UE).

Ao serem questionados se foram pessoalmente afetados pela crise económica, 90% dos portugueses inquiridos responderam afirmativamente, a percentagem mais elevada entre os europeus entrevistados, contra 65% no conjunto dos países europeus abrangidos pelo estudo e 75% dos norte-americanos.

Em paralelo, 70% dos inquiridos portugueses também desaprovam a forma como o Governo tem gerido a crise económica.

O estudo, realizado anualmente, indica diversos elementos de continuidade face a 2012 nas três principais secções selecionadas: Relações transatlânticas e perspetivas globais, Crise económica, Europa e comércio e Segurança Transatlântica, com as duas restantes focadas na Mobilidade, migração e integração, e na Turquia.

A sondagem foi conduzida em junho de 2013 pela "TNS Opinion" nos Estados Unidos, Turquia e em 11 Estados membros da União Europeia: Alemanha, Eslováquia, Espanha, França, Itália, Países Baixos, Polónia, Portugal, Reino Unido, Roménia e Suécia.

Em relação ao funcionamento do sistema económico, 68% dos norte-americanos, 82% dos europeus e 69% dos turcos inquiridos considera que a maioria dos benefícios apenas contempla alguns, contra 25%, 15% e 23%, respetivamente, a afirmarem que o sistema funciona de forma justa para todos. Em Portugal, 92% dos inquiridos afirmaram que o sistema económico apenas beneficia alguns, ficando apenas atrás da Itália (93%).

Uma maioria de europeus (49%) também desaprova a forma como a União Europeia (UE) tem gerido a crise económica, contra 43% a favor. Em Portugal, 55% contestam a liderança da UE, com 41% de opiniões favoráveis.

O relatório destaca que, desde 2010 mais do que duplicou a percentagem de inquiridos que considera negativo ser membro da UE (de 20% para 42%), registando-se hoje em Portugal, Itália ou Espanha percentagens muito próximas das provenientes do tradicionalmente "eurocético" Reino Unido.

Assim, 66% por cento mantêm uma opinião favorável ou algo favorável face à UE, com a aprovação em Portugal a situar-se nos 56%, tendo descido 25 pontos percentuais desde 2009.

Também aumentou em pontos percentuais o número de europeus que desaprovam a forma como os governos dos respetivos países têm gerido a crise económica, com 70% dos portugueses a exprimirem essa opinião (65% em 2012).

Uma larga maioria de europeus (68% em média, 67% em Portugal) considera que cada Estado-membro deverá manter autoridade sobre a política económica e orçamental, com apenas 26% (29% em Portugal) a admitir que deveria ser a UE.

Em média, e apesar de os números variarem de forma significativa entre os países, regista-se ainda um aumento da confiança dos europeus entrevistados na liderança da chanceler alemã Angela Merkel.

Assim, 47% dizem aprovar a sua gestão da crise económica (30% em Portugal, contra 65% de opiniões contrárias), enquanto 42% do conjunto dos europeus inquiridos diz rejeitá-la.

Em relação ao euro, 60% dos entrevistados europeus diz que o uso da moeda única tem sido mau (33% de opiniões favoráveis), com 65% dos portugueses a considerarem que o euro prejudica a economia nacional (55% em 2012).

Já na Alemanha, apenas 44% das respostas são negativas face à moeda única, e enquanto a maioria dos europeus afirma pretender manter-se no euro e evitar um regresso às antigas moedas nacionais, incluindo nos países em crise.

Em paralelo, 45% dos europeus entrevistados considera necessário cortar na despesa pública para reduzir a dívida. Um número que em Portugal ascende aos 70%, e que de seguida varia quando os inquiridos são confrontados com diversas áreas de despesa.

Assim, e em relação à Defesa, 46% dos portugueses defende que as despesas devem ser reduzidas nesta área (41% diz que devem manter-se, e 11% aumentar), 45% pronunciou-se por uma diminuição da despesa em infraestruturas e transportes, mas apenas 27% admitem reduzir a participação estatal em programas do Estado social, com 38% a opinarem pela manutenção do atual investimento.

No setor da Educação e ciência e tecnologia, 55% dos inquiridos em Portugal referem que o investimento deve ser aumentado nesta área, e apenas 11% a sugeriram uma redução.

A "Transatlantic Trends 2013" é uma sondagem anual de opinião pública, conduzida pelo German Marshall Fund of the United States (GMF) e pela Compagnia di San Paolo (Turim, Itália), com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), Fundação BBVA (Espanha), Fundação Communitas (Bulgária), Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco, e Barrow Cadbury Trust (Reino Unido).