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Em Lisboa e no Porto há cada vez mais situações de idosos que, fruto do deterioramento da sua situação económica, veem-se obrigados a ter de escolher entre tomar os medicamentos ou fazer uma refeição por dia
A associação Médicos do Mundo (MdM) alertou hoje que há cada vez mais idosos obrigados a optar entre a toma dos medicamentos ou comer uma refeição diária, fruto da crise e do corte nos apoios sociais.
Dia 01 de outubro assinala-se o Dia Internacional do Idoso, data que a Médicos do Mundo pretende assinalar com várias iniciativas pelo país, mas também aproveitando para chamar a atenção para o que se passa com muitas das pessoas idosas.
Em declarações à Lusa, a coordenadora dos projetos nacionais da MdM apontou que no trabalho realizado no terreno, principalmente nas cidades de Lisboa e do Porto, têm encontrado cada vez mais situações de idosos que, fruto do deterioramento da sua situação económica, veem-se obrigados a ter de escolher entre tomar os medicamentos ou fazer uma refeição por dia.
"Esta situação está a acontecer mais este ano", sublinhou Carla Fernandes, não especificando quantos casos destes foram já detetados.
Na opinião da responsável, uma das explicações está ligada ao facto dos agregados familiares se terem alterado e existirem muitos adultos que se viram obrigados a voltar a viver em casa dos pais.
"O pouco rendimento que existe, e que é do idoso, vai ter de ser dividido, em vez de ser por dois, é dividido por cinco porque aquele filho já traz também os netos", apontou Carla Fernandes.
De acordo com a responsável da MdM, não há um padrão detetado e esta situação tanto ocorre entre idosos isolados como entre os que vivem com outros familiares.
Carla Fernandes apontou que o trabalho da MdM junto da população idosa decorre em Lisboa, Porto e Évora, mas que é principalmente nas duas primeiras que esta situação mais ocorre.
A coordenadora da associação referiu que detetaram igualmente situações em que os idosos reduzem a toma de medicamentos ou adquirem apenas os medicamentos mais baratos da prescrição médica.
"Isto, ao nível da saúde, traz as suas consequências, como é óbvio. Não conseguimos trabalhar ao nível da prevenção, o que traz pessoas idosas mais doentes, mais custos para a sociedade, e isto transforma-se numa bola de neve", alertou.
Segundo a responsável, só em 2012, a organização fez 1.418 apoios ao nível dos medicamentos a idosos. Por outro lado, nos últimos três anos, apoiaram 1.101 idosos.
Em comunicado, a MdM alerta que a "crise está a ter enorme impacto na qualidade de vida dos seniores portugueses", situação agravada com "os cortes significativos nas pensões e no Complemento Solidário para Idosos".
Para alertar para estas e outras situações, a associação Médicos do Mundo vai assinalar o Dia Internacional do Idoso sob o lema "Sou Idoso, sou Valioso", com atividades em Lisboa, Porto e Évora.
Em Lisboa, por exemplo, o dia começa pelas 09:00 com uma ação de rua no Bairro da Picheleira, seguindo-se depois uma Feira da Saúde, onde haverá não só lugar à divulgação do que deve ser uma alimentação saudável, mas também rastreios auditivos, visuais e outros.