Por Ana Suspiro com Lusa, in iOnline
O presidente da Jerónimo Martins considera que a austeridade continua na cabeça dos consumidores e avisa que esse espírito "não vai mudar tão cedo"
A austeridade vai continuar a marcar o consumo em Portugal, apesar da multiplicação dos sinais de retoma e do regresso ao crescimento anunciado para este ano. Esta convicção foi ontem manifestada pelo presidente da Jerónimo Martins, um dos dois maiores grupos de distribuição.
"O mindset (estado de espírito) de austeridade continua na cabeça do nosso consumidor e penso que não vai mudar tão cedo. O consumidor continua muito restritivo e selectivo nas suas compras", afirmou Pedro Soares dos Santos na apresentação dos resultados de 2013. Este ano, sublinhou, "vai ser muito duro" porque a carga fiscal voltou a aumentar e há novos cortes nos rendimentos nos funcionários públicos e pensionistas. "Não vejo aqui onde há um certo alívio."
O presidente da Jerónimo Martins aproveitou para contestar os ataques à empresa por parte de fornecedores, a propósito da nova lei contra as vendas com prejuízo. "É uma farsa. Se a nossa relação com os fornecedores tem mais de uma dezena de anos é porque existe estabilidade e as partes continuam satisfeitas", sublinhou Pedro Soares dos Santos.
O líder da empresa dona da cadeia Pingo Doce desvalorizou as declarações contra as práticas alegadamente predatórias do grupo para com os seus fornecedores. "É lógico que se o fornecedor A nos fornece laranjas e nós optámos pelo A e não pelo B, o B vai ficar sempre chateado. Paciência, faz parte da vida e do negócio." Sobre os objectivos da nova lei de práticas restritivas da concorrência, que tem estado debaixo do fogo da grande distribuição, Pedro Soares dos Santos admite que houve bondade do legislador (o governo), "mas este mais uma vez não soube legislar".
Uma das práticas que a nova lei pretende limitar é a realização de promoções no preço que são financiadas pela margem do fornecedor e não pela cadeia de distribuição. Os representantes das empresas do sector têm avisado que a lei pode prejudicar o consumidor, impedindo o acesso a preços mais baixos.
O presidente da Jerónimo Martins avisa os produtores que "os mais fortes sairão mais fortes e os mais fracos, pequenos e médios sairão a perder do lado da produção". Sobre o impacto da nova legislação na política comercial, Pedro Soares dos Santos diz que ainda é cedo para fazer balanços. "Temos um ano para adaptar as coisas (designadamente os contratos com os fornecedores), é muito cedo. Daqui a seis meses pode fazer--se um balanço muito mais sério do que agora."
Ler artigo parcial