24.2.14

Mais homens vítimas de violência doméstica pedem ajuda

in Jornal de Notícias

Quase 400 homens pediram ajuda à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) em 2013 por serem vítimas de violência conjugal, mas a vergonha justifica que só uma ínfima parte avance com o processo para o Ministério Público. Este sábado assinala-se o Dia Europeu das Vítimas de Crime.

Segundo os dados mais recentes da APAV, em 2013 registaram 7.271 vítimas de crimes de violência doméstica. Destas, 1.024 eram homens e dentro deste grupo estavam 618 homens com 18 ou mais anos. "Destes 618 homens adultos, 381 era vítimas de violência conjugal", refere a APAV.

Em declarações à Lusa, Luísa Waldherr, psicóloga clínica da APAV, disse que a associação tem notado que nos últimos anos o número de homens que pede ajuda tem aumentado, "embora de um modo um bocadinho envergonhado".

Um estudo das investigadoras Andreia Machado e Marlene Matos, da Universidade do Minho, feito em 2013 com 1.557 homens, mostrou que 69,7% tinha sofrido pelo menos um comportamento abusivo nos 12 meses anteriores ao inquérito e 76,4% sofreu pelo menos um comportamento abusivo ao longo da vida e 59,7% dos homens disse ter sofrido uma agressão psicológica.

Cláudia Casimiro, investigadora na área da violência feminina, defendeu que a violência que as mulheres exercem é ou pode ser a mesma que os homens, mas admitiu que "há uma espécie de tabu sobre a mulher violenta", havendo, por isso, pouca investigação nesta área.

Segundo a sociologa, a violência praticada pelas mulheres é mais sub-reptícia e é feita de forma mais gradual junto do marido ou companheiro.

"Pode corresponder a múltiplas formas, como isolar o marido da família ou dos amigos, fazer chantagem, humilhá-lo, por exemplo, em frente a familiares ou amigos, rebaixá-lo, dizer que ele, comparativamente a outros colegas, ganha pouco, tem um trabalho desqualificado, que não serve para nadam, por a masculinidade em causa, etc.", explicou.

Um dos problemas da violência psicológica é que não deixa marcas tão visíveis como um braço partido ou um hematoma e não tem, por isso, consequências imediatas, indica.

Opinião partilhada pela psicóloga clínica Luísa Waldherr para quem o homem, enquanto agressor, utiliza mais a força física, enquanto a mulher a violência psicológica.

"A mulher começa por desvalorizar o companheiro, desvalorizar as suas ações, agride mais ao nível da autoestima, das suas capacidades enquanto homem", disse.

Da desvalorização é fácil passar à agressão física e Luísa Waldherr explica que a certa altura a autoestima do homem está de tal forma em baixo e entra num processo depressivo tal, que é "relativamente fácil" que a mulher o agrida.

E isto faz com que os homens demorem mais tempo a tomar consciência da agressão e a apresentar queixa, explica.

Apenas 8,9% dos 1.557 homens se assumiram como vítimas, segundo a Universidade do Minho.

Com a dificuldade em assumir-se como vítima, vem a dificuldade em fazer queixa e Luísa Waldherr revela que a maior parte dos homens que recorre à APAV o faz porque estão a entrar em processos depressivos e procuram ajuda e que apenas 2% formaliza a queixa.