24.2.14

CPLP pode valer 10% da riqueza mundial dentro de dez anos

Por Isabel Tavares, in iOnline




A entrada da Guiné Equatorial na organização está a gerar desconforto. Aqui, o Banco de Portugal ainda não aceitou a compra de 11% do Banif




A CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa poderá representar 10% da riqueza produzida no mundo dentro de dez ou quinze anos. É nisto que acredita o presidente da Confederação Empresarial da organização, Salimo Abdula.

"Fomos abençoados, temos recursos naturais de grande dimensão, temos mão-de-obra jovem e, se nos posicionarmos como deve ser, levando a tecnologia necessária para dar mais--valias às nossas riquezas naturais onde elas existem, podemos transformar a CPLP numa estrela a nível mundial, fazendo o nosso PIB passar de 4% para 10% do total mundial daqui a dez ou quinze anos", afirmou ontem o responsável em entrevista à Agência Lusa.

Salimo Abdula diz que a Confederação Empresarial se quer expandir além dos países da CPLP e apostar em mercados regionais. "A estratégia comercial da CE-CPLP é usar a comunidade para chegar a outras plataformas da lusofonia". Por isso, participou na primeira reunião dos empresários lusófonos, em Janeiro, em Goa, local que pode ser usado como hub para a Índia e para a Ásia, tal como Macau é usado como "plataforma de negócios com a China".

O objectivo é gerar economias de escala criando a marca CPLP, avança o responsável, reconhecendo que estes são "projectos a médio prazo, mas que só precisam do apoio da classe política para se tornarem realidade".

O presidente da CE-CPLP apelou aos governantes para terem "coragem política para ultrapassar os tabus que são as barreiras administrativas à livre circulação de bens e pessoas e que não fazem sentido" entre estes países. Para Abdula, "há pouco trabalho de sensibilização junto da classe política" e as reuniões entre governantes da CPLP não têm resultados práticos.

Desde que tomou posse como presidente da CE-CPLP, em Julho de 2013, Salimo Abdula tem-se preocupado em montar estruturas em diversos países da CPLP e em visitar estes mercados. "Já estive no Brasil, em Portugal e em Moçambique e o objectivo é passar a mensagem de que os empresários querem implementar as suas actividades e ultrapassar as barreiras aduaneiras" para crescer.

A directora-geral da CPLP, Georgina Mello, considera que há falta de comunicação entre os países que falam a mesma língua e defende a existência de mecanismos para suportar as intenções expressas pelos Estados. "A comunicação entre a procura de um país e a oferta do outro é fundamental, porque há necessidades gritantes nuns sítios e excedentes noutros", disse à Lusa.

"Temos um diamante na mão e ainda não o conseguimos lapidar, mas quando o fizermos vai ser brilhante e uma coisa belíssima", afirmou. O segredo para o sucesso, explica a directora- -geral da CPLP, é criar uma "comunidade paralela" àquela em que cada país está inserido regionalmente, seja Portugal na União Europeia, seja o Brasil no Mercosul.

Guiné Equatorial O Banco de Portugal ainda não se pronunciou sobre a entrada da Guiné Equatorial no capital do Banif, onde, por 133,5 milhões de euros, poderá adquirir cerca de 11%, uma situação que está a gerar desconforto nalguns meios.

O vice-presidente da associação portuguesa Transparência e Integridade, Paulo Morais, acredita que este investimento é "a jóia de entrada" do país na CPLP e lamenta a recomendação da adesão feita pelos ministros dos Negócios Estrangeiros na cimeira extraordinária realizada a semana passada em Maputo.

"Uma organização como a CPLP, que nasceu sem meios, (...) genuinamente juntando um antigo colonizador com países que foram ganhando a sua liberdade", venha a acolher "um regime ditatorial onde o desrespeito pelos direitos humanos é permanente e onde se cometem atrocidades". "Dá ideia que não é a Guiné Equatorial que adere à CPLP, é mais a CPLP que adere aos métodos da Guiné Equatorial e isso é lamentável", disse.