10.9.14

Crise fez aumentar pedidos de ajuda ao SOS Voz Amiga

Natália Faria, in Público on-line

Há mais pedidos de pessoas sós, deprimidas e com pensamentos suicidas. Dia Mundial da Prevenção do Suicídio assinala-se nesta quarta-feira.

A Linha SOS Voz Amiga, de apoio em situações de sofrimento, depressão e risco de suicídio, recebeu 1100 pedidos de ajuda nos primeiros seis meses deste ano, dos quais 5% eram de pessoas “com uma ideia, um plano ou uma tentativa de suicídio em curso”, adiantou ao PÚBLICO Maria Rodrigues, coordenadora daquele serviço de apoio anónimo.

Ao longo de 2013, o SOS Voz Amiga registou 1923 pedidos de ajuda e, segundo aquela responsável, “sente-se que as relações entre as pessoas foram ficando mais degradadas” na comparação entre os dois intervalos de tempo. “As relações familiares, afectivas e mesmo entre amigos estão postas em conflito, o que também se relaciona com a crise porque é evidente que numa casa em que os dois membros do casal estão desempregados, por exemplo, as coisas não podem funcionar com calma”, adianta.

A propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que se assinala esta quarta-feira, e numa altura em que se estima que haja entre 15 mil a 18 mil portugueses que tentam o suicídio todos os anos, foi criada a primeira associação de apoio a sobreviventes do suicídio e aos respectivos familiares. A EUTIMIA propõe-se “dar abrigo, voz e suporte clínico aos sobreviventes e pessoas em risco de suicídio”, conforme precisou à agência Lusa o psiquiatra Ricardo Gusmão, lembrando que por cada pessoa que morre por suicídio em Portugal, cerca de 15 cometem uma tentativa.

Nos primeiros quatro meses deste ano, Portugal registou 294 suicídios, segundo os dados apurados a partir do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (Sico), que, desde o início do ano, integra elementos obtidos pelo Ministério Público, forças policiais, hospitais, centros de saúde e serviços de medicina legal. Em 2013, os registos conhecidos apontam para 1082 suicídios, contra os 1066 do ano anterior. Os dados, porém, não traduzem a realidade do fenómeno, devido ao problema da subnotificação (por razões de rodem religiosa, estigma ou para contornar problemas com seguros) a que o Sico procura agora responder.

O relatório mais recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontava para uma diminuição da taxa de suicídio em Portugal dos 8,8 suicídios por cada mil habitantes em 2000 para os 8,2 de 2012. Os especialistas portugueses, porém, refutam estas conclusões, obtidas a partir de estimativas, e concordam que o máximo que se pode dizer é que, ao contrário do que se chegou a temer, os suicídios têm vindo a estabilizar nos últimos cinco anos em Portugal, apesar da crise económica e ao contrário do que sucedeu em países como a Grécia, Irlanda e Itália. Explicação admitida: o efeito mitigador dos antidepressivos, para o que concorre o facto de Portugal ser dos países da União Europeia que apresentam consumos de antidepressivos mais elevados.

Em sentido contrário ao relatório da OMS, um grupo de investigadores da Universidade de Oxford concluía recentemente, no estudo Economic suicides in Europe and North America’s great recessions que Portugal faz parte da lista de países em que o suicídio mais aumentou desde o começo da crise económica. Independentemente dos números, é consensual que os homens se matam mais, sobretudo em idades mais avançadas. “Há cada vez mais idosos a viver sozinhos e que tendem por isso a desenvolver pensamentos de carácter depressivo. É conhecida a relação entre depressão e suicídio”, adianta o sociólogo Fausto Amaro, que vai falar sobre “A morte social dos idosos e o suicídio”, nas 10.ª Jornadas Sobre Comportamentos Suicidários que a Sociedade Portuguesa de Suicidologia promove nos próximos dias 25, 26 e 27 de Setembro. Numa altura em que “a sociedade tende a esquecer as pessoas idosas, condenando-as a uma espécie de morte social”, o investigador considera que “só quebrando o isolamento social dos idosos se conseguirá fazer baixar o suicídio” em Portugal.