Cátia Mateus, in Expresso
Ao contrário do que aconteceu em grande parte dos sectores, a pandemia não travou o negócio das empresas tecnológicas. Pelo contrário, impulsionou-o. A imposição de confinamento, em março, e a transferência de uma parcela significativa da população ativa para o regime de teletrabalho obrigou as empresas a adotar soluções diferenciadas e a reforçar as suas equipas para acomodar uma nova realidade. Como resultado, a crise pandémica, que já foi fatal para milhares de empresas e profissionais, está a traduzir-se numa oportunidade para os profissionais das tecnologias. Numa área que já enfrentava dificuldades de contratação, por escassez de pessoas qualificadas disponíveis no mercado, identificar e reter talento tornou-se ainda mais crítico. Alguns profissionais registaram desde o início da pandemia um reforço da procura, como programadores de software ou até diretores tecnológicos. A concorrência entre as empresas para contratar estes profissionais está ao rubro, e os salários não tardarão, segundo as consultoras de recrutamento ouvidas pelo Expresso, a refletir este aumento da procura.Vasco Teixeira, diretor da unidade de negócio de Tecnologias de Informação (TI) da Michael Page, não tem dúvidas: “O sector saiu praticamente ileso do cenário da pandemia.” E a justificação é simples: “As organizações necessitaram mais do que nunca das suas equipas de TI para garantir o bom funcionamento dos seus sistemas de informação, tendo ainda de assegurar que os seus sistemas estavam preparados e dimensionados para uma lógica de trabalho de home office [trabalho remoto]”, explica.
A pedido do Expresso, a Michael Page e a consultora de recrutamento Hays identificaram os 10 perfis tecnológicos mais procurados na era covid (ver infografia) e a remuneração praticada para níveis de experiência iniciais (até cinco anos de carreira) e seniores (acima de 10 anos).
Do ranking alcançado ressalta o aumento da procura de profissionais com competências ligadas às áreas de infraestruturas (redes e sistemas) e de segurança e cibersegurança. A acompanhar esta tendência há uma outra: as empresas têm procurado sobretudo perfis já com algum nível de experiência. De resto, José Miguel Leonardo, diretor-geral da Randstad, já o tinha admitido recentemente ao Expresso quando destacou uma subida média das remunerações (ainda que residual) nos últimos meses, que decorreu, maioritariamente, de “um reforço da contratação de perfis tecnológicos por parte das empresas”, sobretudo mais experientes, explicava.
Uma realidade que Victor Pessanha, líder da Hays Experts, também reconhece. O especialista em recrutamento recorda que “o sector das Tecnologias de Informação é claramente liderado pelo candidato, uma vez que a procura por estes perfis é bastante elevada e o talento disponível para mudança de função é reduzido”.
O saldo deste desequilíbrio é um “alto poder de negociação” por parte dos profissionais do sector, admite Victor Pessanha. O especialista da Hays reconhece que o mercado de trabalho tecnológico está a ser caracterizado por uma “pressão salarial significativa, que pode influenciar o mercado também noutros segmentos de negócios”.
“Continuamos a assistir à abertura e crescimento de Centros de Tecnologia e Centros de Serviços Partilhados em Portugal, nomeadamente em Lisboa, Porto e Braga, o que tem vindo a aumentar a procura por profissionais de TI”, realça, acrescentando que, “apesar de toda a pressão salarial no sector, Portugal continua a ser atrativo e a ter salários competitivos para atrair grandes empresas internacionais”. Victor Pessanha recorda ainda que “o departamento de TI e o tema da transformação digital já eram relevantes para as organizações antes da covid e agora estão a tornar-se estratégicos até para sectores mais tradicionais, como entidades governamentais ou empresas familiares”.
O especialista da Hays relembra que, “com a tendência crescente de trabalho remoto, as infraestruturas e os desafios tecnológicos tornam-se cada vez mais complexos”. Uma nova realidade, que faz com que profissionais altamente qualificados nesta área se tornem, progressivamente, mais necessários e procurados no mercado de trabalho. Uma tendência que, acrescenta, deverá continuar a acentuar-se.