O responsável da Pastoral Social da Diocese de Viseu, que dirige também três lares do concelho de Penalva do Castelo, mandou construir, em outubro, as ‘Casinhas da Saudade´ para combater o isolamento dos idosos em tempos de pandemia. Garante que todos os dias há visitas nos lares que gere. E alerta para a necessidade de se ser criativo, face ao que considera serem "normas distantes da realidade".
“São aldeias e aldeias com população idosa que, devido à muita emigração, vive sozinha… a alimentação é o cafezito e o leite”. O retrato é traçado por quem há mais de 20 anos decidiu apostar no apoio aos idosos.
O sacerdote Manuel Clemente, 60 anos, é responsável por três lares em Penalva do Castelo e tece críticas às normas relativas a estes espaços no contexto da pandemia de Covid-19.
“As normas não têm grande sentido, o afastamento num lar não é possível. Temos de ter outra criatividade. Eu investi mais na mentalização e responsabilização dos funcionários. Fazer perceber os idosos o que estamos a passar, nunca fechámos, apenas fechámos no início, cerca de 15 dias. Uma coisa é fazer leis e outra é a realidade de um lar. É preciso criar medidas para manter uma relação de afetividade”, atesta o também responsável da Pastoral da Diocese de Viseu.
E foi a pensar em manter a relação de afetividade entre os idosos e os seus familiares que o padre Manuel Clemente implementou as ‘Casinhas da Saudade’, num investimento total, a contar com o material de prevenção, de 150 mil euros.
“É um contentor marítimo (neste caso três) que é transformado em dois escritórios, com um vidro que separa os utentes dos familiares e que tem som, num espaço de seis metros por dois. Uma casinha, com isolamento total, com duas portas, onde os familiares podem estar”, explica à Renascença, realçando a motivação da empreitada.
“Se os idosos já tinham dificuldade em reconhecer os seus filhos… com máscaras é muito pior. Encontrei uma empresa que fazia este tipo de obra e está a ser um sucesso”, garante o padre Manuel Clemente.
Com as ‘Casinhas da Saudade’, as visitas não são mais interrompidas. Olhos nos olhos, sem máscara, mas separados por um vidro… “Eles têm visitas todos os dias na ‘Casinha da Saudade’, salienta o sacerdote.
Desde o começo da pandemia, nestes três lares do concelho de Penalva do Castelo (dois no Castelo e um nas Antas), com um total de 118 utentes, foram detetados ao todo, 3 funcionárias e 1 idoso infetados com Covid-19.
“Desde abril já testámos os funcionários catorze vezes”, destaca, sublinhando que os planos de contenção foram seguidos. Também por isso, “eliminámos o vírus”, diz com satisfação o responsável da Pastoral da Diocese de Viseu.