29.3.21

Importância das experiências de cidadania ativa na promoção da saúde física e mental Em destaque na edição do Fórum de Saúde «Setúbal a Pensar em Si».

in Rostos on-line

A importância das experiências de cidadania ativa na promoção da saúde física e mental foi destacada ontem no sexto debate em formato digital preparatório da primeira edição do Fórum de Saúde “Setúbal a Pensar em Si”.

No último webinar deste ciclo, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, o vereador com o pelouro da Saúde, Ricardo Oliveira, lançou o desafio aos cinco oradores convidados para falarem sobre várias temáticas relacionadas com “Participação – Experiências de Cidadania Ativa enquanto promotora da Saúde Física e Mental”.

Com moderação do vereador da Cultura, Desporto, Direitos Sociais e Juventude, Pedro Pina, os oradores partilharam experiências sobre a forma como a participação das pessoas em projetos de promoção de uma cidadania ativa pode contribuir para a adoção de estilos de vida saudáveis e para o bem-estar físico e mental.

“O movimento associativo promotor de estilos de vida saudável” foi o tema abordado por Adelaide Botelho, professora de Educação Física na Escola Secundária D. João II e membro da direção do Clube Naval Setubalense, que sublinhou o papel estratégico do associativismo no âmbito do sistema desportivo, cultural e juvenil.

“As associações e os clubes dinamizam um conjunto de atividades que contribuem para a ocupação de tempos livres, o desenvolvimento desportivo, a difusão cultural e a integração social. Deste modo, promovem, na sociedade, espírito de entreajuda, cooperação, igualdade democrática, cidadania ativa, desenvolvimento local e preservação da identidade.”

Dada a proximidade com os cidadãos, as coletividades “assumem-se como polos de desenvolvimento local, promotores da saúde e bem-estar através da realização de atividades que conduzem à adoção de estilos de vida saudáveis”.

A docente destacou, igualmente, o “papel fundamental da escola no desenvolvimento de comportamentos promotores de um estilo de vida saudável”, através das disciplinas lecionadas e do desporto escolar.

Já Raquel Levy, chefe da Divisão da Habitação Pública Municipal da autarquia, assinalou os ganhos em saúde para os moradores abrangidos pelo programa municipal Nosso Bairro, Nossa Cidade – a decorrer na zona do território da Bela Vista – com o desenvolvimento do projeto Saúde no Bairro.

“O Saúde no Bairro nasceu de uma necessidade identificada pelos moradores, que demonstraram interesse numa relação mais estreita com os serviços de saúde, designadamente com a saúde comunitária. Nesse sentido, o projeto capacita a organização de moradores na sua relação com os serviços de saúde.”

Além das habituais respostas dos serviços de saúde, o projeto promove a dinamização de ações na comunidade com o apoio dos moradores, sendo que “a ação mais impactante e na qual os moradores se empenharam mais foi a Medição da Tensão Arterial”.

O ACES Arrábida – Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida, um dos parceiros no projeto, o qual envolve também a Cruz Vermelha Portuguesa, o Instituto Politécnico de Setúbal e a Junta de Freguesia de São Sebastião, proporcionou formação aos moradores e disponibilizou os aparelhos de medição.

“Os moradores fizeram a medição da tensão arterial entre si, de forma organizada e com horários próprios. Em cada Espaço Nosso Bairro, Nossa Cidade foram criadas salas próprias para a medição, com folhas de registo que são levantadas semanalmente por uma enfermeira”, adiantou Raquel Levy.

Apesar de esta ser a iniciativa mais regular, o projeto Saúde no Bairro inclui outras, como aconselhamentos de enfermagem, formação de socorrismo para os moradores, ações de promoção da saúde como a comemoração do Dia Mundial da Alimentação e do Dia Mundial da Saúde com a promoção de receitas saudáveis e a dinamização de atividades desportivas.

Raquel Levy destacou, igualmente, que “foi feito o levantamento de todas as pessoas acamadas, com doenças crónicas e deficiência”, nos cinco bairros abrangidos pelo programa Nosso Bairro, Nossa Cidade, entregue depois aos serviços de saúde.

Na área do desporto, o município dinamiza um projeto destinado à população em situação de reforma a residir no concelho. O “Desportivamente em (Re)forma” aposta, desde 2001, na promoção da saúde dos idosos com o desenvolvimento de atividades de exercício físico regulares que abrangem mais de 1200 pessoas com mais de 65 anos residentes nas cinco freguesias de Setúbal.

O programa promove a prática da atividade física “como veículo de bem-estar, saúde e qualidade de vida”, de forma a “possibilitar um estilo de vida ativo, prevenir doenças e promover o bem-estar físico, psíquico e mental”, indicou o pelo chefe da Divisão de Desporto da autarquia, José Pereira.

Outros objetivos do projeto, “tão ou mais importantes do que a atividade física regular”, consistem em proporcionar momentos de convívio e de lazer à população sénior e em minimizar situações de isolamento.

Quando teve início, em 2001, o projeto dinamizava duas aulas de ginástica para cinco dezenas de alunos. Em 2020, o “Desportivamente em (Re)forma” tinha 1266 alunos envolvidos em 56 aulas de ginástica, hidroginástica, danças sociais, boccia, chi kung e equilíbrio.

“O projeto cresceu de forma sustentada e já pensamos no futuro. Queremos criar polos de descentralização, atividades de treino de força em parceria com clubes e aumentar o número de utentes envolvidos”, revelou José Pereira.

Em março de 2020, o confinamento ditado pela pandemia de Covid-19 motivou o cancelamento das aulas presenciais, pelo que “o projeto teve de se readaptar e criar novas formas de continuar a incentivar a prática de exercício físico regular”.

A Divisão de Desporto criou um grupo privado no Facebook que disponibilizou conteúdos digitais, duas vezes por semana, com aulas de exercício físico. Estes materiais voltaram a ser disponibilizados a partir de janeiro deste ano, com o regresso do confinamento.

A relação entre a saúde e o desenvolvimento social foi a temática analisada por Ana Vizinho, da Rede Europeia Anti-Pobreza, que apresentou o trabalho desenvolvido pelo NPISA – Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo de Setúbal.

Esta estrutura, criada em 2010 no seio do CLASS – Conselho Local de Ação Social de Setúbal, órgão presidido pela Câmara Municipal de Setúbal, desenvolve atividades que visam aumentar o conhecimento do fenómeno dos sem-abrigo em Setúbal e melhorar o apoio a pessoas nessa situação no concelho.

Segundo os dados apresentados por Ana Vizinho, o número de pessoas em situação de sem-abrigo no concelho tem vindo a aumentar, passando de 122 em 2016 para cerca de 170 em 2020.

O NPISA proporciona um conjunto de respostas, que Ana Vizinho reconhece “não serem as ideais”, as quais incluem acolhimento em centros temporários e em apartamentos partilhados e intervenção com equipas de rua durante as vagas de frio. Houve, igualmente, apoio excecional devido à Covid-19, com o acolhimento de pessoas na Cúria Diocesana.

Este cenário origina uma “complexidade de situações de saúde nas pessoas sem-abrigo”, uma vez que “estão sujeitas a várias privações e abandonam o autocuidado, com consequências óbvias para o bem-estar”.

Além disso, “quanto mais tempo se está na rua, maior é o afastamento em relação às instituições e o medo dos serviços de saúde”, pelo que uma das funções do NPISA é “proporcionar respostas para garantir direitos essenciais, como o direito à saúde e à habitação”.

Por fim, José Salazar, presidente da APPACDM Setúbal, abordou o caso concreto da saúde e do desenvolvimento social na área das deficiências mentais e destacou o papel da instituição na “construção de uma sociedade inclusiva, de todos, com todos e para todos”.

O responsável sublinhou que os cidadãos portadores de doença mental são “mais suscetíveis de desenvolver perturbações psicóticas e mais vulneráveis ao stress e às perturbações sociais”, bem como “tendencialmente mais afetados por doenças como diabetes, colesterol alto, ansiedade e depressão”.

Nesse sentido, José Salazar referiu que a APPACDM “tem um papel essencial como promotor de saúde” com o desenvolvimento de ações que “contribuem para que estes cidadãos assumam o papel que lhes cabe na sociedade”.

A APPACDM tem um conjunto de valências que permitem uma intervenção junto dos cidadãos com deficiência mental ao longo de toda a sua vida, como são os casos da Escola de Educação Especial e dos serviços de apoio a mais de quatro centenas de alunos de todos os agrupamentos escolares do concelho de Setúbal.

Os programas de Formação e de Reabilitação Profissional, o apoio à empregabilidade, as respostas ocupacionais nos vários centros de atividades ocupacionais da APAACDM, o Centro de Apoio à Vida Ativa e Independente, bem como o desenvolvimento de atividades recreativas, culturais e desportivas são outras ações, “assentes num importante trabalho de parceria com escolas, empresas e instituições”.

No final do encontro, houve lugar a perguntas via chat dos participantes inscritos.

O vereador Pedro Pina finalizou este último webinar antes da realização do Fórum de Saúde, agendado para 8 de abril, com o reforço de que “não há uma cidade saudável sem uma cidadania ativa”, pelo que deixou um agradecimento pelos contributos e reflexões proporcionados por vários oradores convidados ao longo dos seis debates preparatórios.

Antes deste webinar, o ciclo de debates preparatórios do Fórum de Saúde “Setúbal a Pensar em Si” contou com quatro sessões em fevereiro, sobre “Estado de Saúde e Promoção de Estilos de Vida Saudáveis”, “Comunicação em Saúde”, “Desigualdades no Acesso à Saúde” e “Território e Planeamento Urbano: O potencial Salutogénico do Património Natural e Construído”, e uma em marco, intitulada “Recursos da Comunidade enquanto Determinantes da Saúde”.

O Fórum de Saúde, que procura também celebrar, em Setúbal, o Dia Mundial da Saúde, assinalado anualmente a 7 de abril, pretende criar um espaço de reflexão e partilha de conhecimento nesta área da sociedade.

A primeira edição, a realizar no dia 8 de abril, conta com duas sessões específicas destinadas a debater o Perfil de Saúde e o Plano de Desenvolvimento de Saúde do Município de Setúbal, ambos em elaboração.

A comissão organizadora do evento é composta, além da Câmara Municipal, pelo ACES Arrábida – Agrupamento dos Centros de Saúde da Arrábida, pela Associação da Indústria da Península de Setúbal, pela Associação Nacional de Farmácias, pelo Centro Hospitalar de Setúbal, pela Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas e pelo Hospital da Luz Setúbal.

O Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas, o Instituto Politécnico de Setúbal e as juntas de freguesia do concelho, bem como personalidades ligadas à comunidade educativa, ao movimento associativo popular, às instituições particulares de solidariedade social e à Comissão Municipal de Proteção Civil também fazem parte da comissão organizadora.

Fonte - CMS