Sónia Lourenço, in Expresso
O banco central reviu em baixa as suas projeções para a evolução da taxa de desemprego em Portugal, que deve subir até aos 7,7% este ano, começando a descer, de forma lenta, a partir de 2022. Ainda assim, em 2023, ainda estará acima do valor registado em 2019"O impacto da crise permanece bastante contido nos indicadores de desemprego". A frase é de Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), que esta sexta-feira apresentou as novas projeções da instituição para a economia portuguesa.
Projeções onde o BdP reviu em alta o perfil do Produto Interno Bruto e do emprego entre 2021 e 2023, e, simultaneamente, reviu em baixa o perfil do desemprego.
No que toca à taxa de desemprego, o banco central espera que suba dos 6,8% registados em 2020, para 7,7% em 2021. Isto quando em dezembro esperava que a taxa de desemprego subisse até aos 8,8% este ano. Depois, o BdP espera uma descida da taxa de desemprego, mas de forma lenta: 7,6% em 2022 (em dezembro apontava para 8,1%) e 7,2% em 2023 (em dezembro esperava 7,4%).
Contudo, isto significa que no final do horizonte de projeção, a taxa de desemprego em Portugal ainda vai ficar acima do nível pré-crise, isto é, do valor registado em 2019, quando estava nos 6,5%. O BdP frisa, contudo, que a subida do desemprego nesta crise vai ficar "muito aquém da observada na crise de 2011-13".
"A retoma da atividade traduz-se numa melhoria no mercado de trabalho, com um crescimento médio do emprego de 0,8% e uma redução da taxa de desemprego a partir de 2022", lê-se no Boletim Económico de março do BdP.
O banco central destaca que "as medidas de política adotadas contribuíram para atenuar a diminuição do emprego em 2020, que foi muito mais mitigada do que a redução das horas trabalhadas (-1,7% e -9,2%, respetivamente).
E adianta que "com a recuperação da atividade antecipa-se que as empresas recorram, numa primeira fase, aos trabalhadores que têm disponíveis para dar resposta ao aumento da procura". Por isso, a projeção é que as horas trabalhadas cresçam acima do emprego especialmente em 2021 e 2022.
"A evolução moderada do emprego também reflete os desafios demográficos e a retoma gradual nos segmentos mais afetados pela crise, nomeadamente nos setores mais expostos aos contactos pessoais, mais intensivos em trabalho e com menor possibilidade de recorrer ao teletrabalho, bem como nos indivíduos mais jovens, com níveis de qualificação mais baixos e com vínculos temporários", escreve o BdP.
O banco central deixa uma última nota: "Apesar do sucesso das medidas de política em mitigar os impactos negativos da crise pandémica no mercado de trabalho, antecipa-se que existam alguns efeitos mais prolongados, decorrentes de eventuais alterações nas preferências dos agentes (por exemplo, compras eletrónicas, viagens de negócios e teletrabalho) e da necessidade de realocação de fatores produtivos entre setores".
Mário Centeno também deixou essa mensagem: "É provável que haja alguma reafetação de recursos numa fase mais adiantada da recuperação".