80% das pessoas do sexo feminino dizem sofrer de fadiga pandémica moderada ou severa. Cansaço causado pelo confinamento atinge em força também os estudantes universitários
Um estudo do instituto universitário ISPA, sobre fadiga pandémica, conclui que as mulheres são as que mais sofrem com o confinamento causado pela covid-19. Entre o sexo feminino, 20% diz apresentar 'fadiga ligeira', 50% 'fadiga moderada' e 30% 'fadiga elevada'. Ou seja, 80% apresentam altos índices de fadiga causada pelo confinamento.
Já entre os homens, 2% apresentam 'fadiga baixa', 39% 'fadiga ligeira', 43% 'fadiga moderada' e 16% 'fadiga elevada'. Ou seja, o total de casos onde os inquiridos do sexo masculino mostram um maior cansaço causado pelo confinamento (fadiga moderada e elevada) é de 59% (contra os 80% das mulheres).
A docente e investigadora Ivone Patrão, coordenadora do estudo, diz ao Expresso que “as mulheres, desde há um ano, estão a assumir vários papéis – materno, profissional, doméstico e até o de professora dos filhos na escola online. O cansaço pode estar associado a estas múltiplas tarefas, que, mesmo se forem partilhadas em casal, não deixam de ser uma sobrecarga”.
Além das mulheres, também os estudantes entre os 18 e 25 anos apresentam níveis superiores de fadiga pandémica. Um dos dados do estudo - em que participaram mais de 1800 pessoas dos 18 aos 75 anos - que mais salta à vista é o de que metade dos universitários (49,8%) apresenta fadiga pandémica moderada. 34% apresentam 'fadiga pandémica elevada' ou severa e só 16,1% apresentam 'fadiga pandémica ligeira'. Nenhum apresenta 'fadiga baixa'.
“Os jovens estão numa fase crucial do seu desenvolvimento social presencial, pela necessidade de pertença a um grupo de pares e de desenvolvimento da sua intimidade nas relações amorosas. Os sucessivos confinamentos vieram dificultar estas tarefas, bem como centrar a vida dos jovens na escola online. No PsiQuaren10 [projeto de apoio psicossocial telefónico e online] têm sido os jovens que fazem mais pedidos de consulta online”, explica Ivone Patrão.
Em geral, a maioria dos participantes (46,7%) diz apresentar ‘fadiga pandémica moderada’, 35,5% sofre de ‘fadiga pandémica elevada ou severa’, e 17,7% apenas de fadiga ligeira. Apenas um participante apresenta fadiga baixa. E durante o confinamento parcial (meses de novembro, dezembro e janeiro) a fadiga pandémica era mais baixa do que no confinamento total (janeiro e fevereiro).
“Um ano após o início da pandemia, há claramente um impacto significativo e negativo na saúde mental. Num estudo anterior que realizámos – sobre o impacto do primeiro confinamento – já se tinham comprovado alterações no estado humor (depressivas e ansiosas), bem como aumento dos conflitos familiares, para além de preocupação elevada com a possibilidade de ter um teste covid-19 positivo, e da extrema necessidade de contacto social”, diz Ivone Patrão, que acrescenta: “As pessoas estão cansadas das novas rotinas que a pandemia veio imprimir. Este cansaço pode dificultar a tomada de decisão, sobretudo se requerem continuidade e persistência ao longo do tempo.”
NOTÍCIAS SOBRE COVID-19 TÊM IMPACTO NEGATIVO
Inquiridos sobre se sentem que o teletrabalho é mais cansativo do que o trabalho presencial, são mais os que ‘discordam fortemente’ (33,2%) da questão. Do outro lado da balança, 24,4% diz ‘concordar fortemente’ (24,4%) ou ‘concordar’ (18,4%) que o teletrabalho cansa mais.
Mais de metade das pessoas (70,2%) que responderam ao estudo ‘concorda fortemente’ ou ‘concorda’ sobre se sentem que a visualização de notícias diárias sobre a covid-19 tem um impacto negativo sobre o próprio.
Ivone Patrão deixa um alerta: “Nos próximos tempos, será importante o investimento na saúde mental, de forma a que se possa intervir o mais precoce possível.”