3.5.21

Adultos já recuperaram emprego, mas jovens ainda estão longe disso

Tiago Varzim, in EcoOnline

A taxa de desemprego de 6,5% em março surpreendeu até o Governo, mas esconde duas realidades muito diferentes: os adultos já recuperaram o nível do emprego enquanto os jovens ainda estão longe disso.

A taxa de desemprego atingiu em março deste ano o valor mais baixo desde maio, recuperando quase na totalidade o impacto provocado pela crise pandémica. Este é um número inesperado perante o segundo confinamento, até pelo próprio Governo, e que poderá levar a uma revisão em baixa da previsão anual inscrita no Programa de Estabilidade (7,3%).

Contudo, há duas realidades completamente diferentes no mercado de trabalho em Portugal: por um lado, o emprego dos adultos, que tendem a ter maior segurança pelo tipo e duração do contrato, já recuperou o nível que tinha antes da crise pandémica; por outro lado, o emprego dos jovens entre os 16 e os 24 anos, que tendem a ser mais precários, não recuperou e atingiu em março o valor mais baixo desde 2013.

O número de jovens empregados baixou em 59,8 mil pessoas (valores ajustados de sazonalidade) quando se compara março de 2021 com fevereiro de 2020, o último mês com a atividade económica normalizada. Antes da Covid-19, havia 299 mil jovens entre os 16 e os 24 anos a trabalhar, o que compara com 239,2 mil em março deste ano. Ainda assim, este nem foi o pior mês: em junho de 2020 havia apenas 235,9 mil jovens empregados, o valor mais baixo desde 2013, durante a crise anterior.

Já nos adultos, que vão dos 25 aos 74 anos, a população empregada até subiu em 4,5 mil pessoas, passando de 4.457,3 milhares de pessoas em fevereiro do ano passado para 4.461,8 milhares de adultos empregados em março deste ano. Ou seja, o emprego adulto não só recuperou como já superou o valor registado imediatamente antes da pandemia e tal aconteceu num período marcado pelo segundo confinamento.


Na ótica do desemprego, a conclusão é semelhante. A taxa de desemprego dos adultos baixou para 5,4% em março de 2021, melhor do que os 5,6% registados em fevereiro de 2020. Em alguns meses do ano passado essa taxa foi ainda menor, mas tal esteve relacionado com o aumento significativo dos inativos por causa das restrições à mobilidade, o que baixou o número de desempregados (é preciso estar ativamente à procura de emprego para se ser considerado desempregado).

Pandemia destruiu quase 99 mil empregos num ano

No caso dos jovens, a taxa de desemprego em março de 2021 era de 23%, bem acima dos 18,7% registados em fevereiro de 2020. E a diferença já foi maior quando atingiu os 27,8% em junho do ano passado quando o número de desempregados jovens atingiu os 90,7 mil, tendo aliviado nos meses seguintes até aos 71,4 mil em março deste ano.

Contudo, como mostram os números dos postos de trabalho, estes menos quase 20 mil desempregados não o deixaram de ser porque conseguiram um emprego. Na verdade, essa evolução da taxa de desemprego reflete a passagem de uma parte significativa dos jovens nessa idade (cerca de 50 mil em comparação com o ano passado) da população ativa para a inatividade por causa da pandemia. A população inativa jovem subiu dos 630 mil há um ano para 681 mil em março.
João Leão admite revisão da taxa de desemprego em 2021

No debate sobre o Programa de Estabilidade 2021-2025 esta quinta-feira no Parlamento, o ministro das Finanças, João Leão, admitiu que a taxa de desemprego anual de 2021 pode ficar abaixo dos 7,3% estimados pelo Governo no Programa de Estabilidade 2021-2025. “Olhe para a taxa de desemprego: 6,5%”, disse, respondendo a Afonso Oliveira (PSD), para depois acrescentar que “provavelmente até vai ficar, no cômputo do ano, abaixo do que temos no nosso Programa de Estabilidade”.

Esta expectativa surge após o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter adiantado que a taxa ficou nos 6,5% em março, surpreendendo pela positiva o Ministério das Finanças: “A taxa de desemprego anunciada hoje pelo INE [Instituto Nacional de Estatística] está em valores muito abaixo do que eram expectáveis”, reconheceu. Para o ministro esta é a medida de “eficácia” dos apoios do Governo, algo que repetiu diversas vezes durante o debate.