3.5.21

Nasceu o Movimento que quer acabar com a discriminação pela idade

Ana Carrilho, in RR

O #StopIdadismo pretende combater a discriminação dirigida, sobretudo, à população mais velha. ONU já considera a idade como a terceira forma de discriminação mais grave, depois da raça e sexo.

Vamos Falar de Idadismo foi o tema da Conferência Internacional que assinalou o lançamento do Movimento #StopIdadismo, em simultâneo, em dez países: além de Portugal (que organizou o evento online) Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, El Salvador, México, Panamá e Venezuela.

Mas foi em Espanha, pela mão da especialista em Inovação Social, Laura Cañete, da Fundação Asispa, que a iniciativa começou, no final do ano passado.

Na conferência de sexta-feira, referiu que o Idadismo, em Espanha, está muito enraizado, mas as pessoas nem têm consciência de que algumas atitudes – nomeadamente, o paternalismo excessivo, a infantilização as conversas com os mais velhos ou a ideia de que já não podem executar diversas tarefas – podem ser uma forma de discriminação, de os desvalorizar.

Por isso, a ações já adotadas passam por organizar encontros ou participar em programas na comunicação social em que se dá a conhecer essa realidade. Laura ambiciona que este movimento se torne “planetário” e tão conhecido como o Me Too.

Por enquanto, mais dez países ibero-americanos aderiram. Em Portugal, o Movimento “StopIdadismo é liderado por José Carreira, antigo presidente da Alzheimer Portugal, especialista nas questões do envelhecimento e diretor da revista “Envelhecer”.

Espera que o número de adesões cresça rapidamente, porque o problema é global. Isso mesmo sublinhou o Presidente da República, que enviou uma mensagem de apoio e incentivo ao movimento.

“A discriminação em função da idade atinge toda a sociedade e não apenas aqueles que são vítimas. É um problema global, que o momento veio tornar mais real. A pandemia veio agravar as perceções negativas e os estereótipos sobre a idade. E enquanto sociedade, é fundamental nos mobilizemos para os combater, valorizando a experiência dos mais velhos e promovendo o diálogo intergeracional”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa na sua mensagem.

O #StopIdadismo é o nome do movimento que pretende combater a discriminação em função da idade e que atinge, sobretudo, a população mais velha. As Nações Unidas consideram que é a terceira forma de discriminação mais grave, depois da raça e sexo.
Vamos falar de Idadismo

Este é o desafio e mote da campanha que José Carreira lançou. É um convite a que, quem quiser, faça um pequeno vídeo com o telemóvel, respondendo a três perguntas simples:
Alguma vez foi discriminado pela idade?
Que razões podem motivar essa discriminação?
Como podemos combater o Idadismo?

Depois deverá ser enviado para info@Stopidadismo.pt

É uma forma de conhecer as práticas e de cada um conhecer melhor as nossas atitudes discriminatórias, conscientes ou não. “É a melhor forma de pôr termo a esse tipo de preconceito e construir uma sociedade para todas as idades.

Um relatório recente das Nações Unidas revela que, pelo menos, uma em cada duas pessoas já teve atitudes idadistas. A ONU recomenda que os governos adotem políticas públicas e sociais para combater este preconceito já que esta discriminação contribui para o aumento da pobreza e da insegurança económica das pessoas na velhice, aumentando o isolamento social e a solidão dos idosos.

António Ferrari, assessor de comunicação da ONU para Portugal frisou que, além disso, este tipo de marginalização custa muitos milhares de milhões de dólares aos países. No caso dos Estados Unidos, são cerca de 63 mil milhões de dólares/ano. E calcula-se que há cerca de 6 milhões de casos de depressão associados ao Idadismo.

No início da década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), as Nações Unidas consideram também muito preocupante a falta de estatísticas credíveis em relação aos idosos.

Para António Ferrari, nunca foi tão urgente falar de Idadismo e de o colocar no topo das prioridades políticas.

Ainda assim, a ONU recomenda também ações educativas e atividades que reforcem a solidariedade intergeracional.

Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil e antigo diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), é considerado o “pai” do Envelhecimento Ativo e foi outro dos participantes no evento.

Kalache manifestou uma “inveja sadia” dos portugueses, que receberam apoio do seu Presidente, ao contrário do que acontece com Bolsonaro e o seu Governo, no Brasil, que desprezam os mais velhos, nomeadamente no acesso aos cuidados de saúde em plena pandemia.

O gerontólogo diz que o Idadismo, à semelhança do que acontece na maioria dos países, também é um conceito pouco conhecido no Brasil. Mas frisa que leva à exclusão social e à desigualdade.

E, apesar de não ser exclusivo desses grupos, os pobres, negros, com baixo nível educacional, velhos e se, ainda por cima se forem mulheres e tiverem alguma incapacidade, estão numa situação mais vulnerável.

Para dar mais força ao movimento, e para começar, Alexandre Kalache popôs a criação de uma Liga Ibero-americana contra o Idadismo.

A discriminação mais frequente

Também a Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade participou nesta conferência que lançou o Movimento #StopIdadismo. Rosa Monteiro considera que “este é um momento muito oportuno pra desconstruir este tipo de discriminação, uma das formas mais praticada, mas menos reconhecida”.

E lembrou que ela está presente em várias situações, nomeadamente, no mercado de trabalho, quando as empresas dispensam os trabalhadores mais velhos – normalmente porque ganham mais – desvalorizando a sua experiência e conhecimento. Os mais velhos ficam assim mais vulneráveis face ao despedimento.


Por outro lado, as mulheres, com maior esperança de vida, acabam por ter um menor número de anos com saúde. E estão sujeitas a outros fatores de desigualdade, como salários mais baixos e, por vezes, carreiras contributivas mais reduzidas, que levam a pensões que não lhes garantem o mínimo necessário a viver com dignidade.

Não é por acaso que o ano passado, cerca de 70% dos beneficiários do Complemento Solidário para Idosos foram mulheres. Elas, em média, têm pensões 27% mais baixas que as dos homens.

Rosa Monteiro referiu que o Governo tem diversas políticas públicas que tentam reduzir estes riscos e considera que o debate sobre o Idadismo é muito oportuno.