2.3.09

Frio de Janeiro e crise ajudaram comerciantes

Maria Cláudia Monteiro, in Jornal de Notícias

Em tempo de crise, são cada vez mais os consumidores que adiam as compras para a época de saldos. Este ano, o frio de Janeiro deu uma ajuda aos lojistas no escoamento dos restos da colecção de Inverno.

Não fossem as temperaturas baixas registadas no primeiro mês do ano e o balanço da época dos saldos, que terminou ontem, seria bem mais negativo. "Os saldos não correram nada mal. O clima ajudou e a crise também", explicou Sónia Carvalho, lojista há 15 anos, na "Somoda", na Rua de Costa Cabral, no Porto.

Ainda assim, as prateleiras da loja estão cheias de produtos que ficaram por vender e nem a liquidação dos artigos de criança foi suficiente as esvaziar. Esta é uma das razões que leva os comerciantes a consideram excessivos os mais de dois meses de saldos, actualmente em vigor. "Começam cedo demais, nem sequer temos tempo de vender todo o artigo", disse Sónia Carvalho.

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) lançou a reflexão, considerando ser insustentável, do ponto de vista financeiro, vender-se artigos a preços reduzidos ao longo de dois meses. "Parece-nos que o prazo é exagerado", disse José António Silva, presidente da CCP. "O facto haver saldos durante tanto tempo inviabiliza outras dinâmicas de procura", acrescentou, preocupado com a actual crise que o comércio tradicional atravessa.

Uma opinião partilhada por Laura Rodrigues, presidente da Associação dos Comerciantes do Porto (ACP). O esforço dos comerciantes durante a época de saldos, durante a qual "vendem a preço de custo, quanto não a abaixo", não é compensado nos restantes meses do ano, considera a presidente da ACP. "Ficam sem condições para fazer face à actividade", explicou, opondo-se ao actual calendário, com início logo a seguir ao Natal. Laura Rodrigues chama, ainda, a atenção para o estado de "anarquia" que tomou conta do comércio, com a vulgarização do conceito "outlet" e das promoções constantes.

António Bizarro, de 67 anos, aproveitou o último dia de saldos para comprar dois pares de sapatos. Contra factos, não há argumentos: "É muito mais barato", disse ao JN. António volta-se para mostrar outra das suas compras dos saldos desta época: o casaco. "Em Dezembro custava 125 euros e comprei-o depois, em Janeiro, por 60", contou.

"Só compro em época de saldos. É muito mais barato", explicou Sónia Seabra, que ao longo do ano vai estudando a oferta para saber o que quer comprar e onde, quando baixam os preços.