11.3.09

Recessão longa e profunda

Camilo Lourenço, in Jornal de Negócios

Aos poucos começam a ser conhecidos os estragos da crise financeira na economia real. Primeiro foi a Inglaterra a rever a queda do PIB; depois a Alemanha; e agora a Espanha. Sempre para pior... Ontem o BCE avançou que a crise se vai prolongar por 2010


Aos poucos começam a ser conhecidos os estragos da crise financeira na economia real. Primeiro foi a Inglaterra a rever a queda do PIB; depois a Alemanha; e agora a Espanha. Sempre para pior... Ontem o BCE avançou que a crise se vai prolongar por 2010, prevendo que o PIB caia entre entre 2,2% e 3,2% este ano. Não espanta por isso que tenha baixado as taxas de juro para valores recorde: 1,5% (deve cair para 1% até Junho).

Qual o efeito destas baixas no PIB? À partida será pequeno, o que parece um paradoxo: juros de 1,5%, em situação normal, são suficientes para garantir crescimento económico. O problema é que há outro factor a emperrar a recuperação: a desconfiança gerada pela (in)sanidade do sistema financeiro, que paralisou o comércio mundial, o investimento das empresas e a despesa das famílias. O mesmo é dizer que, enquanto não acabar a sangria de prejuízos monumentais dos bancos e enquanto não desaparecer o "ninguém-sabe-bem-quais-os-bancos-saudáveis", as coisas dificilmente melhoram. É por isso que corremos o risco de passar 2010 também em recessão. O que, bem vistas as coisas, nem é mau de todo. As crises financeiras têm um impacte violento no PIB. Em 1929 foi o que se viu: desemprego galopante, falências em massa e pobreza. O PIB só recuperou quatro anos depois. Desta vez não há desemprego galopante, há "safety net" (que minimiza a pobreza) e a recessão promete demorar dois anos. Se assim for...