Alexandra Carreira, em Bruxelas, in Diário de Notícias
Cimeira informal. Líderes da UE, reunidos ontem ao almoço em Bruxelas, apoiam recusa alemã de injectar 160 mil milhões de euros nos mais recentes países membros. E decidem travar escala proteccionista na Europa. Teixeira dos Santos defende solução global para pôr fim aos 'off-shores'
A União Europeia decidiu ontem que não vai canalizar ajudas em bloco aos novos países membros do Leste e do centro da Europa: Polónia, República Checa, Hungria, Eslováquia, Bulgária, Estónia, Letónia, Lituânia e Roménia. Em vez disso, os líderes preferem estender a mão aos países em dificuldade baseando eventuais planos de apoio numa análise caso a caso.
"Não me parece que a Europa de Leste seja uma região especial", afirmou Mirek Topolanek, primeiro-ministro checo e presidente em exercício do Conselho Europeu, rejeitando ao mesmo tempo a ideia de separar a Europa "em grupos".
A Alemanha foi a grande opositora da ideia apresentada pela Hungria, que previa um apoio no valor de 160 mil milhões de euros para a região. A chanceler Angela Merkel explicou, à saída da reunião, que a Europa "mostrou até aqui, em particular através do exemplo da Hungria, que ajuda os estados que precisam" e precisou que as ajudas, se forem necessárias, serão canalizadas através das instituições internacionais, como o FMI, ou dos meios europeus, como o Banco Europeu de Investimento.
Os países mais recentemente chegados à UE viram ainda negada qualquer possibilidade de aceleração nos processos de adesão à moeda única. "Seria um erro alterar as regras agora", disse Durão Barroso, presidente do executivo comunitário, no final da cimeira informal, reafirmando, contudo, que "todos os países, à excepção dos que fizeram um opt-out, têm o direito de entrar para a moeda única".
Apesar disto, a mensagem que mais se ouvia ontem à tarde no final do almoço de trabalho entre os chefes de Estado e de Governo dos 27 era que a UE reafirmava a solidariedade e a unidade europeias.
O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, que representou Portugal no encontro informal, esclareceu que os líderes deixavam a capital belga com os "ânimos serenados". Isto, apesar de a cimeira de Bruxelas ter sido agendada de emergência para conter tensões que se haviam gerado entre algumas capitais devido aos receios crescentes de uma escalada proteccionista na Europa em resultado dos planos anticrise.
De Bruxelas sai, então, a ideia de que os 27 estão apostados em renegar as derivas proteccionistas, lendo-se no comunicado de imprensa da presidência checa que a UE deve "tirar o máximo partido do Mercado Único como motor de relançamento para apoiar o crescimento e o emprego". No capítulo do nacionalismo económico, receado acima de tudo pelos países do Centro e Leste da UE, Durão sublinhou que a reunião mostrou "convergência contra o proteccionismo" e serviu "precisamente para dissipar dúvidas no espírito de alguns".
Combate à crise
Os líderes europeus colocaram uma tónica muito forte no tratamento dos activos tóxicos dentro dos sistemas financeiros. Fica à consignação de cada Estado membro a escolha sobre a elegilibidade de quais os activos problemáticos a limpar, mas Durão Barroso apelou a "um quadro de coordenação" entre os 27 a este nível. O Ecofin poderá mesmo vir a tomar decisões neste sentido até ao final da presidência checa, ou seja, até ao fim de Junho próximo.
Para o Conselho da Primavera ficará a avaliação pormenorizada do plano de relançamento da economia, ao nível nacional e o seu impacto na UE como um todo. A posição europeia no G20 de Londres, a 2 de Abril, deverá também sair do encontro formal de 19 e 20 deste mês.


