8.6.10

Alemanha: Cortes sociais reavivam animosidade contra apoios à Grécia

in Jornal de Notícias

O pacote de austeridade de 80 mil milhões de euros do Governo alemão gerou alguma incompreensão entre desempregados, mas também entre políticos e economistas, que acham que o país tem de poupar porque se comprometeu a ajudar a Grécia.

"O gregos aldrabaram nas contas, estão falidos, e agora nós é que temos de pagar a factura", disse à Lusa, em Berlim, Peter Plaschil, serralheiro desempregado, 45 anos.

"Não tenho dúvidas de que nunca mais vamos ver os milhões de euros que a Alemanha deu à Grécia", acrescentou Plaschil, que deixará de beneficiar dos descontos do Estado para a sua reforma, devido aos cortes orçamentais apresentados na segunda feira pelo Executivo de Angela Merkel.

A opinião de Plaschil não é necessariamente maioritária, mesmo entre as pessoas mais afectadas pelas medidas do Governo, mas as dúvidas quanto à eficácia e legitimidade dos apoios à Grécia ou a outros países do sul da Europa são comuns a muita gente.

"Não sei se seria pior não ajudar a Grécia, há quem diga que haveria consequências negativas para nós, por isso acho que a Merkel e o Governo não agiram só por generosidade", afirmou Gabi Zwiegner, auxiliar de enfermagem desempregada, 37 anos.

Mãe de dois filhos, Zwiegner também irá sentir os efeitos dos cortes orçamentais, porque os apoios à transição do subsídio de desemprego para o rendimento mínimo garantido vão ser suprimidos.

Mais contundente é a opinião de Klaus Stock, polidor da construção civil, desempregado, 24 anos, que não esconde as suas simpatias pela extrema direita.

"Acho que o NPD é que tem razão, o dinheiro é nosso, não temos nada que dar nada aos gregos, para eles continuarem a desbaratá-lo", afirmou o jovem alemão.

Em finais de abril, o NPD, principal partido neofascista, promoveu uma manifestação diante do Consulado da Grécia em Dusseldorf contra as garantias bancárias de 22,4 mil milhões de euros dadas por Berlim para evitar a bancarrota helénica.

Mas não é apenas o NPD que está contra a ajuda à Grécia, ou contra a contribuição de 148 mil milhões de euros da Alemanha para o fundo de 750 mil milhões de euros, instituído em plena crise pela União Europeia e pelo FMI para tentar estabilizar a moeda única.

"O pacote de austeridade que o Governo apresentou é o tributo que estamos a pagar pela ajuda à Grécia", afirmou à televisão pública ARD Hans-Werner Sinn, diretor do Instituto de Pesquisa Económica de Munique (ifo).

Conhecido pelas suas posições eurocépticas, Sinn tem afirmado repetidamente que a melhor solução para a Zona Euro é deixar a Grécia ir à falência.

Mas Sinn não está só, um grupo de conhecidos eurocépticos, formado por vários economistas e pelo deputado democrata cristão Peter Gauweiler, apresentaram queixa no Tribunal Constitucional contra as ajudas de Berlim a Atenas.

O referido grupo também já tinha recorrido ao Supremo, sem êxito, para tentar evitar a substituição do marco alemão pelo euro, há 10 anos, e, mais recentemente, para impugnar o Tratado de Lisboa.