5.6.10

Organizações católicas lançam campanha contra tráfico de seres humanos

Por António Marujo, in Jornal Público

Rede alerta contra "ofertas de trabalho boas de mais para serem verdadeiras" durante a competição


Uma rede de organizações católicas ligadas a institutos religiosos femininos está a promover uma campanha internacional de informação e prevenção contra o tráfico de pessoas durante o Mundial que se disputa na África do Sul, ao mesmo tempo que desenvolve, no terreno, apoio a vítimas de tráfico.

A rede "Talitha Kum" (expressão hebraica para "levanta-te e caminha") está preocupada com o facto de, no país de Nelson Mandela, não existir legislação punitiva do tráfico humano.

Ao contrário do que se possa pensar, este fenómeno não abrange apenas a prostituição, nota o padre Rui Silva Pedro, que trabalha em Roma ligado a redes de apoio a imigrantes. "Na última década, assistimos ao aumento do tráfico de trabalhadores de vários serviços", disse ao PÚBLICO.

Constituída por congregações católicas femininas que abrangem 36 países, a rede Talitha Kum promoveu a publicitação da campanha junto de claques desportivas e outros sectores que podem ser envolvidos pelo Mundial. Outra das iniciativas foi o envio de cartas a bispos e outros responsáveis da Igreja Católica, pedindo o apoio à iniciativa, através da publicação de textos e informações, referências nas homilias e disponibilização de pessoas para apoiar a iniciativa.

Nessa carta, a que o PÚBLICO teve acesso, os responsáveis da rede caracterizam as situações mais generalizadas de pessoas apanhadas em redes de tráfico: o trabalho doméstico em condições de quase escravatura e sem auferir salário, as promessas de emprego que acabam em redes de prostituição e o trabalho rural forçado, sem pagamento.

Jovens são alvo preferido

No caso do Mundial da África do Sul, a rede avisa: "O Campeonato do Mundo de futebol está a criar expectativas na criação de postos de trabalho, mas algumas dessas ofertas, aparentemente atractivas para quem tem poucos recursos, dissimulam regimes de escravidão." No folheto que está a distribuir, alerta contra as "ofertas de trabalho que pareçam boas de mais para serem verdadeiras".

As vítimas são oriundas, sobretudo, de países asiáticos e africanos. Entre 2004 e este ano, entre as vítimas de tráfico apoiadas por uma agência da Organização Internacional das Migrações em Pretória, metade era tailandesa, mas havia também indianas, chinesas e filipinas. Dos países africanos, 12 por cento das vítimas eram oriundas da República Democrática do Congo, nove por cento do Zimbabwe, oito por cento da própria África do Sul e seis por cento de Moçambique (só nos países limítrofes da África do Sul calcula-se em cerca de 500 o número de grupos de traficantes a operar).

No país de Mandela, a campanha inclui iniciativas de sensibilização na comunicação social, aldeias e escolas - que estarão encerradas durante a duração do torneio, o que faz recear o aumento de disponibilidade dos mais jovens para ouvir promessas.