Nuno Miguel Ropio, in Jornal de Notícias
Portuguesas têm menos bebés e maternidade surge em média pelos 30 anos, segundo Instituto de Estatística
As mulheres em Portugal não só são mães cada vez mais tarde, como têm menos filhos. De acordo com os dados divulgados, ontem, quarta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de crianças por mulher tem vindo a descer drasticamente na última década.
Os indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativamente às estimativas da população residente, não revelam nada que não seja uma tendência, pelo menos desde 2000: uma constante descida do índice sintético de fecundidade, isto é, do indicador que traduz o número médio de nascimentos por cada mulher em idade fecunda. De 1,56 crianças por mulher, no início do século XXI, 2009 acabou com um índice de 1,32.
Quanto à idade média com que ocorre o nascimento de um filho observou-se um aumento: de 28,6 anos, em 2000, as mulheres engravidam agora por volta dos 30,2. Já a idade do nascimento de um primeiro filho passou de 26,5 para os 28,6 anos (ver ao lado dados nas infografias).
Para a socióloga Ana Cristina Santos, esta evolução relaciona-se com factores de modernização da sociedade, "como o acesso à educação e a outras esferas de valorização pessoal". "Não deveremos ficar surpreendidos com tais valores porque esta evolução continuará a acontecer e tenderá a ser reforçada", explica a investigadora portuguesa do Instituto Berkeley de Pesquisa Social, da Universidade de Londres.
Uma ajuda chamada imigração
"As mulheres valorizam mais a componente educativa e a carreira, tentando não sacrificar a sua intimidade. E não se trata de escolher uma coisa em detrimento de outra. Trata-se de conseguir conciliar objectivos de valorização com maternidade, sendo que não há outra solução que não adiar e diminuir o número de crianças", defende a socióloga, classificando a escolha de "inteligente".
Acrescenta Ana Cristina Santos que não é ainda de descartar o factor geográfico: "com uma maior mobilidade, as mulheres, que deixam as zonas rurais e rumam às cidades, deixam de contar com as redes sociais de apoio, como os avós ou outros familiares, e dependem de creches".
Contas feitas, em nove anos, Portugal viu nascer menos 20.517 bebés. Em 2009, deram-se à luz 99.491 nados e, em contrapartida, morreram muitos mais portugueses - 104.436. O que resulta num saldo natural negativo, o maior e único, na última década, se exceptuarmos os dados de 2007.
Porém, o INE adianta que somos mais ao longo dos 92 mil quilómetros quadrados: 10.637.713. Sendo que a maioria - 51,6% - são mulheres. Um acréscimo populacional de 10 mil indivíduos em relação a 2008, que se deve ao saldo migratório positivo. Mas tal como descem os nascimentos, a imigração também tende a diminuir.


