in Jornal de Notícias
O corte de um salário, que se antecipa como uma medida que o Governo incluirá no próximo Orçamento do Estado, mereceu opiniões divergentes de vários economistas e gestores participantes na conferência Portugal em Exame.
Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), defendeu que o Governo deve privilegiar "uma solução mais equitativa do que a anterior", assente na redução salarial da função pública.
Por outro lado, afirmou o mesmo responsável no evento organizado pela revista Exame, do grupo Impresa, "subestima-se a função pública", e a adoção de "medidas gerais só ajuda a expelir os bons quadros que há na administração pública".
Assim, continuou, "devia ser revista toda a estrutura de remuneração da função pública e todos os incentivos à produtividade", no quadro de uma política que garantisse a valorização dos seus recursos humanos, defendeu o ex-ministro social-democrata no Governo liderado por Durão Barroso.
Luís Mira Amaral, participante no mesmo painel de conferencistas, começou por ironizar e dizer em relação à questão que, como não tinha "os dados", não podia responder. Em seguida, voltou ao ponto defendido numa primeira intervenção: "Isto não é sustentável, comecem a cortar na despesa pública de acordo com o que o programa do PSD propunha", apelou.
O ex-ministro da Indústria de Cavaco Silva afirmou ainda estar "chocado" com o alargamento dos cortes salariais aos pensionistas, em violação do regime contributivo e desrespeito pelos descontos que fizeram para a reforma. "Não se mexa nas pensões, corte-se um subsídio, um salário, não tenho problemas, mas com calibragem social, com sensibilidade", defendeu.
Augusto Mateus afirmou também que "todas as medidas de austeridade nunca deveriam ter tocado nos primeiros 600 ou 700 euros de cada português", defendendo, como Mira Amaral, que os reformados e os trabalhadores ativos deveriam ser "tratados de maneira diferente".
"O que foi feito trouxe todos os males e nenhum dos bens", considerou pelo seu lado Vieira da Silva, recusando "embarcar na resposta simples de 'sim ou não'" ao corte de um salário no IRS do próximo ano.
"A distinção não é entre despesa e receita, é entre medidas eficazes na consolidação orçamental e que não sejam danosas para economia", defendeu o ex-ministro da Segurança Social e da Economia de José Sócrates, apontando como "pecado original deste governo" o facto de "não saber gerir as expectativas". "Foi desastroso e parece que é voluntariamente contra a economia", concluiu.