Rita Leça, in TVI24
Ter filhos é, antes de mais, uma decisão económica. Que sociedade queremos ou podemos construir?
«Quando dizem que há falta de jovens eu questiono-me: Temos 30% de desemprego entre os jovens. Isso quer dizer que também não há assim tanta falta de jovens». A opinião, irónica, é de Pedro Telhado Pereira, economista da Universidade Católica, quando falava na Conferência sobre trabalho e fecundidade no encontro «Presente no Futuro», que decorre até amanhã no CCB.
Na sua intervenção, Pedro Telhado Pereira defendeu que a atual situação económica - «crise, desemprego, desigualdades» - conduz Portugal «por um mau caminho».
Para o economista, «o ideal seria cada mulher ter 3 filhos para equilibrar» a sociedade, mas, estatísticas à parte, «toda a gente sabe que os contratos a prazo prejudicam a fecundidade. Uma mulher sabe que o seu contrato não será renovado se estiver grávida».
De facto, comprovou, por sua vez, Alexandre Quintanilha, físico e catedrático, a população mundial «está a crescer menos» - «com uma taxa média de 2,3% há quatro anos para os atuais 1,2%» - e, talvez por isso, haja ainda o que o especialista classifica como um «sentimento de culpa insultuoso e cruel» para com «todas as mulheres que adiam a sua maternidade ou não querem ter filhos».
«As pessoas só se querem realizar. As que querem ter filhos devem poder tê-los. Mas, hoje em dia, há muitas outras formas de mulheres e homens se sentirem realizados».
Mais do que as questões demográficas, o que preocupa Alexandre Quintanilha são as questões da sustentabilidade do planeta e dos custos da alimentação no futuro. Por isso, o físico apelou: «Mas importante do que se focar na quantidade das pessoas, é preciso apostar na qualidade de vida das pessoas que vivem neste planeta finito».
E se antes «eram as classes trabalhadoras que tinham mais filhos, porque não o conseguiam evitar. Agora ter filhos é uma questão financeira e é a classe alta que tem mais filhos do que a média da sociedade», disse, por sua vez, Pedro Telhado Pereira.
Já Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar contra a Fome, assumiu a felicidade com os seus cinco filhos e deixou a hipótese: «Talvez as mulheres tivessem deixado de ter tantos filhos para provar que são iguais aos homens. Mas as mulheres são diferentes dos homens».
Mais do que questionar o porquê das coisas, Isabel Jonet defende que uma discussão conjunta: «Temos de definir que tipo de sociedade queremos. Serão necessários muito mais filhos?».
A responsável pelo Banco Alimentar contra a Fome defendeu, antes de mais, que «as pessoas têm de dar a si próprias tempo», perceber que «o tempo é um bem escasso» e perceber o que querem fazer da vida e qual a melhor forma para viver e educar, porque, entende Jonet, «estamos cada vez mais sozinhos».