6.9.13

Fora de prazo, mas consumível. Na Grécia, é possível

in iOnline

Lei que permite a venda de alimentos fora de prazo entrou ontem em vigor para facilitar o acesso a comida, num país em plena crise

Em recessão há seis anos e com uma população que terá perdido metade do poder de compra até 2014, segundo um estudo do Instituto do Trabalho grego, a Grécia permite agora a venda de alimentos fora de prazo. O objectivo da lei que entrou agora em vigor esta semana é o de permitir o acesso a alimentos a famílias que tenham dificuldades para os comprar e, apesar das intenções, a medida está a ser polémica no país, com a oposição a criticar o governo de Andonis Samarás, acusando o primeiro-ministro de estar a fazer uma divisão nos consumidores, entre ricos e pobres. Ao mesmo tempo, o secretário-geral do consumo, do Ministério do Desenvolvimento grego, garante que a lei está a ser mal interpretada e que não é a data de validade dos produtos que será tida em conta, mas antes a data de venda ao público.

A lei grega estabelece regras para que os produtos fora de prazo possam continuar à venda, com descontos sobre o preço original. Ou seja, os alimentos que têm um prazo com uma data indicada por dia e mês podem continuar à venda até uma semana depois do prazo. Alimentos com um prazo definido por mês e ano, poderão estar à venda até um mês depois dessa data. E os alimentos que só tenham um ano como data limite, poderão estar à venda até três meses depois. Isto, desde que estejam em prateleiras à parte, identificadas e com preços reduzidos.

Segundo a agência Efe, a organização para a segurança alimentar na Grécia já classificou a lei como insuficiente, já que tem "demasiadas zonas cinzentas", que podem ser exploradas e deixar à venda alimentos de "qualidade duvidosa". Por outro lado, a cadeia de supermercados Alfa-Beta foi a primeira a garantir que ia optar por não aproveitar esta legislação, porque pretendia manter uma política de qualidade. Esta cadeia faz ainda outra interpretação da lei, considerando que apenas os alimentos que tivesse uma data de consumo preferencial poderiam entrar ser vendidos neste sistema.

A nova lei não deverá ir contra as normas europeias, já que em, 2012 foi o próprio Parlamento Europeu a aprovar uma resolução em que pedia às empresas da indústria alimentar para que melhorassem as embalagens e a forma como mostram a validade dos seus produtos. Tudo para reduzir o desperdício de comida.

A crise na Grécia está a aumentar os números de famílias em situação de fome e as organizações de caridade já referiam no início de Agosto que 90% das famílias dos bairros mais pobres já dependiam de bancos alimentares. Os relatos de crianças malnutridas e a sofrerem desmaios nas escolas tem aumentado no país. "Os professores têm denunciado casos de crianças que aparecem com pouco mais do que arroz para comer durante meses" disse Panaghiota Mourtidou, fundador de uma organização de caridade, ao "The Guardian". Os dados da Unicef para este apontam para que 600 mil crianças vivam abaixo do limiar de pobreza no país e mais de metade sem acesso a nutrientes diários básicos na alimentação.