4.9.14

Corrupção rouba 760 mil milhões de euros por ano aos países em desenvolvimento

Cláudia Bancaleiro, in Público on-line

Negócios escuros de recursos naturais, empresas fantasma, lavagem de dinheiro e evasão fiscal estão entre os principais crimes que lesam os Estados mais pobres.

Mais de 760 mil milhões de euros são tirados anualmente aos países em desenvolvimento e mais pobres por actividades de corrupção. Somas astronómicas estão a ser retiradas dos orçamentos e das economias destes países, mas também milhões de vidas humanas estão a perder-se para estes crimes. Pelo menos 3,6 milhões de mortes poderiam ser evitadas por ano se os países mais pobres conseguissem impor medidas anticorrupção.

Os números, avançados nesta quarta-feira, são do mais recente relatório da organização não-governamental One, co-fundada pelo cantor Bono (dos U2) para combater a pobreza.

A meta parece utópica mas foi estabelecida pela One: se o mundo trabalhasse em conjunto, a pobreza extrema estaria erradicada em 2030. Mas com base nos dados do relatório da organização, esse objectivo não deverá passar de uma pretensão.

Segundo o documento, pelo menos 760 mil milhões de euros estão a ser subtraídos dos países em desenvolvimento através de uma “rede de actividade corrupta que envolve negócios escuros de recursos naturais, o uso de empresas fantasma, lavagem de dinheiro e evasão fiscal”. Esta realidade está actualmente a impedir que estes países combatam a “pobreza extrema, as doenças e a fome”, sublinha a ONG.

Se a luta contra a corrupção, contra o sigilo financeiro, negócios de recursos naturais e lavagem de dinheiro começasse a ser bem-sucedida, a One sublinha que as perdas de vidas seriam “reduzidas significativamente”. “Isso traria uma série de benefícios para os países em desenvolvimento, incluindo o aumento do investimento directo estrangeiro e o aumento do produto interno bruto de até 0,6% ao ano”, observa o relatório.

Os crimes associados à corrupção estão a provocar perdas a estes Estados entre os 740 mil milhões de euros e 1,5 biliões de euros (biliões à portuguesa, como sinónimo de milhões de milhões). O destino deste dinheiro são os paraísos fiscais, onde a One estima estarem concentrados 15 biliões de euros. Nestes paraísos fiscais, 2,4 biliões de euros não declarados tiveram origem em países em desenvolvimento. Se este valor fosse tributado, poderia representar receitas aproximadas de 14.800 milhões de euros por ano.

A ONG fez as contas e se o valor das receitas fosse aplicado nos sistemas de saúde dos países mais pobres poderia evitar-se anualmente a morte de 3,6 milhões de pessoas, entre 2015 e 2025.

A organização alerta ainda que se se terminasse com a opacidade de alguns negócios e relações económicas, a economia global poderia beneficiar de um aumento de 9,9 biliões de euros dentro de cinco anos e metade da meta de crescimento dos países do G20 seria alcançada.

"A corrupção inibe o investimento privado, reduz o crescimento económico, aumenta o custo para a realização de negócios e pode levar à instabilidade política", adverte a One.

Ao G20, grupo dos ministros das Finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, a One deixa o seu principal apelo à acção contra a corrupção. O grupo vai reunir-se na Austrália, em Novembro, e a organização espera que este assunto seja alvo de debate.