16.6.20

Crianças: explicar e combater o racismo

Vera Ramalho, Opinião, in Público on-line

Explicar o racismo e como o combater, ao mesmo tempo que promovem a integração e a igualdade de oportunidades, deveria ser uma vontade dos pais e uma obrigação da escola.

Em todo o mundo temos assistido a manifestações e protestos anti-racistas suscitados pela morte de George Floyd. A frase dita por este homem pouco antes da sua morte assume o simbolismo do sufoco em que muitas pessoas se encontram por pertencerem a uma raça que não a branca e que chama a atenção para a divisão e para o afastamento que o racismo cria entre as pessoas.

Explicar o racismo e como o combater, ao mesmo tempo que promovem a integração e a igualdade de oportunidades, deveria ser uma vontade dos pais e uma obrigação da escola. Os pais deveriam querer mostrar aos seus filhos que o amor não tem cor, que não se gosta ou se deixa de gostar de alguém por causa da sua cor ou da sua raça, sendo que o mesmo se passa com o respeito pelo outro.


Falar sobre temas relacionados com a vida e com a cidadania deve caber aos pais, porque não falar sobre um assunto pode significar retirar-lhe valor. Há também quem não fale sobre racismo escondendo-se na desculpa de que a criança não questiona. Preferem deixar as coisas acontecerem, na sua maioria, porque se sentem confortáveis assim. Será isto também uma forma de racismo?

Para quem nasce branco, é fácil não pensar no que poderá fazer se algum dia for agredido por causa da sua cor, do seu cabelo ou das suas origens. Provavelmente porque isso nunca irá acontecer. De igual forma, para quem nasce branco, também deveria ser importante saber agir quando vê alguém a maltratar e a insultar, por causa da sua cor, alguém que é negro.

O racismo não nasce connosco, mas é fruto da nossa história e é moldado socialmente. Em muitas sociedades é comum que situações dúbias, quando se passam com pessoas de raça diferente da branca, sejam automaticamente lidas com desconfiança ou perigo, podendo desencadear violência.

Há uma tentativa teórica de fingir que consideramos pretos e brancos iguais, mas muitas pessoas que não se consideram racistas têm medo de ir a determinados lugares onde predominam os negros ou as pessoas de outras etnias, como, por exemplo, os ciganos.

Como fugir ao racismo, se o ditado popular diz que “a fome é negra” e até nos animais há discriminação sobre os gatos pretos, que nada têm de malvadez e por sinal são lindos!

O racismo significa desigualdade e devemos esforçar-nos para a aproximação de uma sociedade menos racista e mais integradora e isto tem de começar pela educação, em casa, através de conversas sobre raça, racismo, injustiça e de acções que sejam coerentes com as palavras. Muitas crianças são alvo de ofensas e piadas verdadeiramente destrutivas, dirigidas a si ou à sua família que podem afectá-las profundamente, causando ansiedade, humilhação e isolamento.

Há conceitos importantes a serem abordados por quem pretende educar para a cidadania e para a tolerância tem de explicar às crianças de modo a que elas não perpetuem os preconceitos e a desigualdade. São disso exemplo, que a identidade racial é um sentimento de pertença a um grupo e um direito de todos; que no caso da criança ser ofendida ou assistir a uma ofensa, a culpa não é sua, mas de quem a ofendeu; que o mundo trata as pessoas com base na sua aparência, mas a raça ou a cor da pele de alguém não faz parte daquilo que a define, seja ela boa ou má pessoa; que não temos de gostar de toda a gente, mas isso não tem nada a ver com a cor da pele da outra pessoa ou com a sua raça; que para termos valor não precisamos diminuir os outros; que as pessoas podem ter aparências diferentes, mas que devem ser igualmente respeitadas; que existem pessoas que tratam mal outras por causa da cor da sua pele ou de outras características físicas, e que é responsabilidade de cada um mudar essa atitude.