Cátia Mateus, in Expresso
Crescimento do desemprego registado abrandou em maio face a abril. Há 408.934 desempregados, o que representa mais 16.611 novos inscritos nos centros de emprego, ou mais 4,2%, face ao mês anterior. Em abril, já em pleno cenário de pandemia, o número de novos inscritos tinha aumentado mais de 14%. Economistas dizem que "é bom" mas alertam: o desemprego continuar a aumentar de forma expressiva em termos homólogos. Há mais 103 mil desempregados do que em maio do ano passado
É um otimismo relativo. Maio fechou com 408.934 desempregados registados nos centros de emprego nacionais, mostram os dados esta segunda-feira divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). São mais 16.611 novos desempregados, ou sejam mais 4,2%, do que em abril. E se é verdade que este número traduz um abrandamento significativo no número de novas inscrições nos centros de emprego, face ao ocorrido desde o início da pandemia da covid-19 – entre março e abril o número de desempregados registados aumentou 14,1% -, não é menos verdade que em termos homólogos, se considerado o mês de maio de 2019, ele representa um aumento de 34% no número de pessoas em situação de desemprego. Portugal tem hoje mais 103.763 desempregados do que em maio do ano passado. Os novos desempregados são maioritariamente mulheres, jovens e com baixos graus de qualificação.
“Para o aumento do desemprego registado, face ao mês homólogo de 2019, contribuíram todos os grupos do ficheiro de desempregados, com destaque para as mulheres, os adultos com idades iguais ou superiores a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário”, explica o IEFP. O resumo já ajuda a enquadrar o cenário nacional em matéria de desemprego, mas uma análise mais detalhada permite perceber exatamente quem são os novos desempregados portugueses.
Vamos então por partes. As mulheres representam 55,2% do universo de desempregados registados em maio deste ano. São hoje 212.138, mais 53.433 (33,7% do que em maio de 2019. O maior aumento homólogo (56%) foi entre o grupo dos jovens, mas a maioria dos desempregados estavam inscritos há menos de um ano e 93,3% procuram um novo emprego. De resto, o grupo dos que procuravam através dos centros do IEFP uma nova atividade aumentou no último mês 40,6% face a maio de 2019, enquanto o grupo dos que procuram o primeiro emprego até diminuiu (-5,5%).
Pouco qualificados são os mais afetados
O desemprego homólogo aumentou sobretudo entre portugueses com qualificações ao nível do ensino secundário (+61,5%) e do terceiro ciclo do ensino básico (+45,6%). Considerando os grupos profissionais dos desempregados inscritos, os mais representativos são os “trabalhadores não qualificados” (25,4%) e os “trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção, segurança e vendedores” (21,6%) e o “pessoal administrativo” (11,7%). Mas em termos homólogos foi no grupo dos “operadores de instalações e máquinas “ que o desemprego registado mais aumentou.
“Este aumento registou maior expressão no sector ‘serviços’ (+44,7%). A desagregação deste ramo de atividade económica permite observar que as subidas percentuais mais acentuadas, por ordem decrescente, se verificaram nas atividades de: ‘alojamento, restauração e similares’ (+89,3%), ‘transportes e armazenagem’ (+62,8%) e ‘atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio’ (+57,5%)”, elenca o IEFP.
Tanto em termos mensais como homólogos, os dados hoje conhecidos mostram que o Algarve é a região do país mais afetada pela evolução do desemprego, tornando evidente o impacto da paragem económica imposta pela covid-19 numa região fortemente dependente do turismo, principal vítima da crise. “A nível regional, no mês de maio de 2020, o desemprego registado aumentou, por comparação ao mês anterior, na generalidade das regiões, com exceção para a região do Alentejo (-1,4%)". No que respeita a aumentos homólogos, o mais pronunciado deu-se na região do Algarve (+202,4%), explica o IEFP.
Otimismo moderado
Embora o abrandamento do ritmo de novas inscrições registadas nos centros de emprego durante o mês de maio seja de valorizar, para os economistas é cedo para falar em recuperação. “O desemprego continua a aumentar em termos homólogos, são mais 103 mil desempregados do que há um ano e a perspetiva é que até ao final do ano tenhamos mais 200 mil desempregados”, explica o economista João Cerejeira.
Ainda assim, Cerejeira admite que este abrandamento no ritmo de novas inscrições – “que é positivo e deve ser valorizado” – poderá indicar alguma estabilização das perspetivas das empresas. “O mês de abril foi muito complicado, com muitas dúvidas dos empregadores em relação ao lay-off e muitos atrasos nos pagamentos”, explica acrescentando que “em maio isso estabilizou e muitas empresas regressaram também à atividade com o levantamento das medidas de restrição”.
O economista do trabalho realça também que os dados de maio poderão estar influenciados por sazonalidade e recorda que “tipicamente maio é um mês em que o desemprego registado abranda”. Por isso, a leitura destes dados deve sempre ser feita com alguma cautela. Ainda assim, e embora o aumento homólogo superior a 100 mil desempregados seja o indicador que não devemos perder de vista, João Cerejeira admite que as variações mensais do desemprego permitem sentir o pulso ao impacto das medidas adotadas nas empresas.