20.11.20

Cresce número de portugueses que considera medidas do Governo pouco ou nada adequadas

Ana Maia, in Público on-line

Portugueses também estão menos confiantes na capacidade de resposta dos serviços de saúde, tanto à covid-19 como a outras doenças.

Os portugueses estão menos confiantes na capacidade de resposta dos serviços de saúde, tanto à covid-19 como a outras doenças, e são também cada vez mais aqueles que consideram que as medidas implementadas pelo Governo são pouco ou nada adequadas para combater a pandemia, mostrou um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública. Segundo a avaliação à percepção dos portugueses ao longo destes nove meses de pandemia, houve uma ligeira adequação dos comportamentos, mas mesmo assim ainda há 35% que não usaram sempre máscara quando estiveram com um grupo de mais de dez pessoas.

Os dados do estudo Barómetro Covid-19 Opinião Social, que inquiriu 182.581 pessoas desde Março – os inquéritos online são feitos quinzenalmente -, foram apresentados esta quinta-feira na reunião que juntou investigadores e políticos. E desde o início da pandemia que a percepção dos portugueses sobre a adequação das medidas tomadas pelo Governo de combate à pandemia está a piorar. Se no final de Março apenas cerca de 25% considerava que as medidas eram pouco ou nada adequadas, agora são 50% os que têm esta opinião – a percentagem mais alta registada até ao momento.

Também cresceu ao longo da pandemia o número de pessoas menos confiantes na capacidade de resposta dos serviços de saúde. No caso da resposta à covid-19, a percentagem dos pouco ou nada confiantes está em 40%. O nível de confiança também piorou ao longo destes últimos quatro meses (este indicador começou a ser avaliado na quinzena que começou a 25 de Julho) no que diz respeito à resposta a doentes não covid-19. Está perto dos 70%, quando na primeira avaliação não chegava a 40%.

Ainda em relação ao acesso à saúde, nas últimas duas semanas 20% das pessoas que disseram necessitar de uma consulta não a tive porque decidiu não ir ou foi desmarcada. Há ainda perto de 40% de pessoas que evitou marcar ou adiou cuidados de saúde não urgentes por receio de contrair covid-19. Também é grande o impacto na saúde mental, com mais de 20% a dizerem que se sentem agitados, tristes ou ansiosos todos os dias ou quase todos os dias.

Para Carla Nunes, directora da Escola Nacional de Saúde Pública, a percepção sobre as medidas tomadas pelo Governo e a da incapacidade dos serviços de saúde estão interligadas. “O sentimento é que se não conseguem ir ao médico é porque o Governo não está a decidir bem. São coisas que estão muito relacionadas. O sentimento de que estão a tirar um bem essencial é algo muito forte”, refere a responsável, que apresentou os dados na reunião no Infarmed.

Mas existem outros factores que pesam na percepção em relação ao Governo. Fala de “um cansaço” provocado pelas mudanças constantes que a pandemia impõe. “As pessoas estão cansadas com a mudança de regras e é preciso ser claro que uma regra que sai amanhã é grande a probabilidade que não se mantenha por muito tempo”, diz, salientando ainda o efeito do impacto directo das medidas tomadas. O desencanto com as decisões governamentais, refere, “não é um fenómeno nacional”. “Vemos noutros países manifestações e greves a acontecerem.”

“Ligeira adequação” de comportamentos

Carla Nunes dá uma nota positiva em relação aos dados. “Há uma ligeira adequação dos comportamentos, seja por opção ou por medidas que foram tomadas. Há algo positivo. Só não sei se será o suficiente para os números de incidência que temos”, diz. Pela primeira a percentagem daqueles disseram nunca sair de casa sem ser para ir trabalhar (últimas duas semanas) chegou perto dos 10%. Contudo, 35% disseram fazê-lo todos os dias ou quase todos os dias e apenas 25% disse ter mantido sempre a distância de dois metros de outras pessoas quando saiu de casa.

Quanto ao uso de máscara, aumentou a percentagem dos que disseram usá-la sempre que saiu de casa e esteve com outras pessoas. Mas ainda há mais de 20% que não o fazem sempre. Também importante é o número de pessoas que disse não usou sempre máscara quando esteve com um grupo de dez ou mais pessoas: foram mais de 35%.

O barómetro avaliou ainda o nível de confiança em relação às vacinas que estão a ser desenvolvidas contra a covid-19 e a disponibilidade de as tomarem. Os muito e os nada confiantes são cerca de 10% cada. Os restantes dividem-se entre confiantes e pouco confiantes. Já quando à disponibilidade para tomar a vacina logo que possível, 25% afirmam estar nesta condição. E menos de 10% dizem nunca. Carla Nunes considera “razoável” a percentagem de pessoas que diz estar logo disponível para ser vacinada, tendo em conta que os processos de aprovação ainda não estão concluídos.