30.11.20

Deco alerta para degradação da qualidade de vida em lares com a pandemia

Ana Carrilho, Olímpia Mairos, in RR

Estudo revela que o tempo de espera por uma vaga chega a ser de cerca de meio ano e critica o que chama de preços incomportáveis, com médias mensais a rondar os 950 euros, por utente.

A Deco diz que a pandemia expôs de forma inquestionável as debilidades dos lares de idosos. Na sequência de dois estudos, a Associação para a Defesa do Consumidor concluiu que é evidente a deterioração da qualidade de vida dos utentes, seja a nível mental, seja ao nível da mobilidade.

Os dados revelam que os utentes dos lares pagam em média 950 euros por mês. Mas como a pensão média em Portugal ronda os 740 euros, o remanescente fica por conta da família.

Os tempos de espera para entrar numa instituição também são muito elevados. Um problema, sobretudo, numa altura em que este serviço se mostra mais necessário, diz à Renascença Bruno Santos, da Deco Proteste.

“Relativamente ao tempo de espera, levei cerca de 108 dias para estruturas privadas e cerca de 170, à volta de meio ano, para IPSS e lares de misericórdia. Há outras estruturas que têm listas de espera”, conta este responsável, acrescentando que “na altura em que é preciso acudir a estas pessoas e às suas famílias, esse serviço não está disponível e, portanto, temos aqui, claramente, um problema de acesso”.

Mais grave, em geral, é a degradação do estado de saúde dos idosos, a nível da mobilidade e mental, desde a entrada no lar até à altura da sua morte. E a pandemia só veio agravar a situação. “Há um agravamento generalizado das condições de saúde com especial relevância para a saúde mental dos utilizadores dos lares”, constata.

Bruno Santos dá conta de “um relato muito detalhado das insuficiências que, aquando da declaração da pandemia, eram bem visíveis nos lares” e exemplifica com a “insuficiência dos materiais de proteção, como fatos de proteção, máscaras, produtos de higienização, teste, etc”.

A estes, assinala o responsável, “podemos acrescentar outros dados que conhecemos, como a falta de orientações detalhadas adequadamente exequíveis para este tipo de estruturas, a insuficiência das equipas e a sua eventual impreparação, ou seja, eu diria que estava criado tudo para que assistíssemos e continuemos a assistir aos problemas que hoje temos nos lares”.

Segundo os dados da Deco Proteste, antes da quarentena, 69% dos idosos não sofriam de qualquer problema grave de saúde, percentagem que baixou para 57% após o isolamento.

Ainda assim, os familiares revelam uma satisfação geral relativamente ao trabalho desempenhado pelas equipas nos lares.

Os dados foram recolhidos pela Deco Proteste, através de dois inquéritos realizados junto de familiares de utentes, um tendo em conta os últimos cinco anos e outro relativo ao confinamento provocado pela pandemia.

Para a organização de defesa do consumidor, os dados confirmam que é preciso aprender alguma coisa com a pandemia e redefinir a estratégia para este setor.