Ingresso de mais de 11 mil pessoas em ações de formação contribuiu para um recuo mensal de 1,6% no desemprego registado.
A recuperação no número de desempregados em ações de formação do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) contribuiu no último mês para a descida mais expressiva nos números do desemprego registado desde o início da pandemia em Portugal. A quebra mensal foi de 1,6%, depois de os programas ocupacionais do IEFP terem absorvido mais 11.525 pessoas em outubro, num crescimento de 14%.
Os dados do IEFP relativos ao mês de outubro, divulgados nesta quinta-feira, contavam um total de 403.555 desempregados registados, numa descida em 1,6% em relação ao mês de setembro, mas ainda 34,5% acima do mesmo mês de 2019. Comparando com fevereiro, último mês livre de impactos da pandemia, o desemprego registado crescia 28%, com mais 87.993 desempregados inscritos nos centros IEFP.
Apesar de tudo, não foi observado um aumento de colocações, ao mesmo tempo que o número de novos registos de desemprego tornou a crescer, em 0,9%, para as 55.246 inscrições. A descida verificada em outubro em 6620 desempregados registados coincide antes com a recuperação dos níveis de inscritos em formação, que se mantinham baixos desde janeiro.
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Em outubro, os ocupados em ações de formação do IEFP - que, assim, deixam de contar para o desemprego oficial - totalizavam 93.588. Trata-se de um máximo de 21 meses. Só em dezembro de 2018 houve mais inscritos do IEFP em formação, com 96.825 pessoas.
A recuperação na formação ocorre após meses de dificuldades por parte do IEFP, admitidas ainda neste mês no Parlamento pelo secretário de Estado adjunto do Emprego e da Formação Profissional, Miguel Cabrita, segundo o qual "as condições operacionais para fazer formação profissional foram muito limitadas. Ainda assim, a formação do IEFP terá abrangido 260 mil pessoas nos primeiros dez meses deste ano, indicou. Atualmente, 40% das ações estarão a ser asseguradas à distância ou num formato misto (remoto e presencial).
Dados do IEFP relativos a outubro mostram um total de 403 555 desempregados registados.
A maior subida no número de ocupados em ações de formação em outubro ocorreu no Algarve, a região mais penalizada pelo desemprego resultante da pandemia, em termos relativos. Na região, houve mais 691 ocupados em formação no último mês, numa subida de 24%. Também em Lisboa e Vale do Tejo se registou um crescimento de 22%, com mais 4413 desempregados em formação.
Os dados divulgados ontem pelo IEFP indicam, contudo, que a subida no número de inscritos em ações de formação no Algarve ainda fica bastante aquém do ritmo mensal de aumento de desempregados. A região do sul do país foi a única que continuou a somar desemprego registado no último mês. Houve mais 2778 inscritos como desempregados nos centros IEFP, num aumento de 13%. Já os Açores e a Madeira tiveram uma subida mensal ligeira no desemprego registado de 0,4% e 0,1%, respetivamente.
Informáticos e pessoal de saúde no top 10 do aumento do desemprego
A informação do IEFP também faz luz sobre os grupos profissionais mais penalizados pela pandemia. Sem surpresa, trabalhadores de agências de viagens, cozinheiros, empregados de mesa, cabeleireiros, no grupo profissional de serviços pessoais, são aqueles que mais contribuíram para o aumento do desemprego registado desde fevereiro. Contam mais 59% de desempregados inscritos no IEFP em outubro (mais 10.579).
É mais surpreendente a segunda maior subida no desemprego registado. Os trabalhadores das tecnologias de informação e comunicação, um dos grupos profissionais mais em falta no período anterior à pandemia, viram o desemprego registado crescer em 50% (mais 925 desempregados).
Em terceiro lugar, surgem os diretores de hotelaria, restauração e comércio, com um crescimento de desemprego em 50% em relação a fevereiro (mais 1111 desempregados).
Assistentes de preparação de refeições e trabalhadores de montagem são os seguintes grupos mais atingidos desde o início da pandemia, ambos com um crescimento de 44%. Surgem depois os técnicos de nível intermédio, dos serviços jurídicos à cultura, com 43%, professores e operadores de máquinas (ambos com 40% de aumento de inscritos como desempregados no IEFP) e ainda especialistas financeiros, de contabilidade ou das relações públicas (mais 39%).
O top 10 das profissões com maior desemprego completa-se com os profissionais de saúde, também com uma subida de desempregados em 39%, apesar das crescentes necessidades de trabalhadores deste setor devido à pandemia.
Maria Caetano é jornalista do Dinheiro Vivo