Vítor Mota, in Negócios on-line
O presidente da Confederação Empresarial de Portugal alerta, em entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF, que que as moratórias são uma "bomba relógio" e lamenta que o lay-off simplificado não seja para todos.
O presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva (na foto), diz em entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF que já se perderam cerca de 200 mil empregos e que receia que esse número duplique se nada for feito.
"Já teremos perdido neste momento, com a pandemia e seus efeitos, 200 mil empregos. Se nada for feito, receio que este número dobre", declara.
"Tudo farei enquanto dirigente associativo para exigir do governo medidas a tempo para salvar o máximo de postos de trabalho, da mesma maneira que continuarei a solicitar a quem represento, às empresas, o esforço acrescido de manterem empregos como até agora têm feito".
Sobre os apoios às empregas, António Saraiva refere que, quando se fala da economia portuguesa, "há que sublinhar que uns 98% são micro e pequenas empresas, com até dez trabalhadores. Esta é a matéria-prima com que trabalhamos. O nosso crescimento tem sido anémico, 1% ou 2%, não chega. Para retomarmos o que perdemos em 2020 vamos precisar de três ou quatro - e esperemos que tudo corra bem para recuperar esses valores. Temos de fazer um esforço acrescido e a União Europeia tem de gizar planos, metodologia e rapidez de resposta".
"A bazuca que todos esperamos como a salvação - sebastianistas que somos - só vai chegar à economia, na melhor das hipóteses, no final deste ano. Na quarta-feira, o primeiro-ministro recordava isso. Há aqui um processo de acordos entre Estados-membros, uma morosidade que vai atrasar os fundos - e quando chegarem terão metodologias de acesso, formulários, etc. Nós precisamos de um empurrão, de uma atitude de estímulo coletiva, de corretas articulações entre público e privado para gizarmos investimentos reprodutivos e captarmos investimento direto estrangeiro, para darmos condições de estabilidade aos investidores", frisa.
Questionado sobre o tempo necessário para que o tecido empresarial recupere desta crise, o presidente da CIP diz que "vai demorar". "Há Estados-membros que estão a dar significativos apoios às empresas, a prepará-las melhor para a retoma que há de vir. Nós partiremos da quarta ou quinta linha e vamos precisar de dois ou três anos, com otimismo e fazendo tudo certo, com medidas de apoio rápidas e eficientes".
"O que me assusta é que a capacidade instalada das empresas saia prejudicada, que a experiência acumulada dos nossos colaboradores se vá perdendo e isso prejudique a retoma", aponta.
Sobre a questão de estender as moratórias a um prazo mais longo, António Saraiva diz que "fará todo o sentido, porque tal como nas empresas, o país precisa de reagir". "Temos de nos adaptar à mudança. E esta realidade é perfeitamente disruptiva. Esta pandemia é totalmente diferente de outras realidades anteriores que vivemos e temos de nos adaptar a ela. O alongamento das moratórias, as linhas reforçadas e com montantes significativos dentro do quadro de possibilidades da economia portuguesa são essenciais".
"Nós não podemos comparar-nos com outros Estados europeus, mas olhando os PIB, a riqueza que se produz, vemos que comparamos muito mal. (...) Dando os outros países mais apoio à sua economia e capacitando as suas empresas de uma resposta pós-pandémica mais eficaz, Portugal fica prejudicado. Porque não estamos na pole position - estamos a partir da quarta ou quinta linha - e teremos de recuperar muito mais rápido. Se recuperarmos... A Europa coesa de igualdade de oportunidades é mais igual para uns do que para outros".
"A acreditar em alguns dos indicadores que me têm apresentado, as moratórias representam cerca de 40 mil milhões de euros (...). E sendo moratórias, chegará o momento em que terão de ser pagas. Se esse pagamento não for feito de forma inteligente, faseada e absorvendo todos os equilíbrios e necessidades das entidades envolvidas, estamos com uma bomba-relógio debaixo dos pés. Se essa obrigação tiver de ser cumprida num dado momento que não seja compatível com a geração de receitas daqueles que têm de a cumprir, não sei como se resolverá o problema", acrescenta.