2.3.21

Mais de 45 mil refeições por dia são servidas nas escolas

João Queiroz, in DN

Ministro Tiago Brandão Rodrigues destaca que o sistema educativo respondeu quando mais foi posto à prova durante esta pandemia. E admite abrir escolas ainda neste mês, caso a evolução dos números continue positiva.

O ministro da Educação revelou que atualmente estão a ser servidas, todos os dias, nas escolas, "mais de 45 mil refeições" a alunos de famílias carenciadas e que, entre este e o confinamento do ano passado, quase duplicou o número de estabelecimentos de ensino de acolhimento, onde hoje há um universo de cerca de 17 mil alunos a ter aulas presenciais.

Estas foram algumas das respostas do Governo à crise elencadas por Tiago Brandão Rodrigues durante um debate que ontem teve lugar na redação do JN - inserido na emissão especial sobre um ano da pandemia em Portugal, que juntou os princpais títulos do Global Media Group - , em que também participou o filósofo e ensaísta José Gil, e durante o qual se discutiram as consequências na educação e as desigualdades sociais causadas pela pandemia.

No "momento em que mais foi posto à prova", o sistema educativo respondeu com eficácia, garantiu Tiago Brandão Rodrigues.

A rede de escolas de acolhimento aumentou de 700 para cerca de 1500. São frequentadas por alunos filhos de trabalhadores de serviços essenciais, com necessidades educativas especiais, "para quem o ensino à distância é ineficaz". Ou que estão sinalizados como em risco de abandono escolar pelas Comissões de Proteção de Crianças e Jovens - no ano passado, admitiu, houve um "aumento ligeiro" desses casos.

O ministro da Educação assegurou, também, que o problema do "número muito elevado de alunos que não tinham possibilidade nem meios para ter qualquer contacto com a escola", que se verificou no anterior confinamento, já não se coloca agora. "Se, eventualmente, houver um aluno que não está em contacto com os seus pares, na semana seguinte a CCPJ está a atuar porque ele é sinalizado", garantiu.

Tiago Brandão Rodrigues reconheceu também ser "significativo" o número de refeições servidas diariamente nas escolas a alunos e também às suas famílias carenciadas. São "mais de 45 mil", o que corresponde "a um aumento na ordem dos 40% em relação às que eram servidas no início de janeiro".

Regresso em março?

Tal como fizera o primeiro-ministro, o ministro da Educação deixou em aberto a possibilidade de o plano de desconfinamento, a anunciar dia 11, iniciar-se antes da Páscoa, com a reabertura das escolas. Alertou, no entanto, que para isso acontecer e podermos "continuar a ganhar a batalha dos números", "não podemos relaxar nas próximas semanas".

"Sabemos que, para podermos ter, em março, alguma movimentação no que toca ao desconfinamento e, logo, no desconfinamento das escolas, temos todos de ter, coletiva e individualmente, um conjunto de comportamentos adequados", afirmou, sublinhando a importância de se "criarem todas as condições para que o regresso "aconteça mais cedo do que tarde".
José Gil vê Portugal "um animal ferido"

A pandemia "criou medos e reativou medos antigos", acentuou desigualdades e tornou "necessária uma ação comum" que, na perspetiva do filósofo José Gil, não existe na sociedade portuguesa. Porque Portugal sai desta crise "como um animal ferido" e com "uma espécie de consciência de muitas desigualdades e injustiças que estavam escondidas e que agora se mostram de forma muito clara".

Os portugueses estão "emocionalmente zangados", observou o ensaísta, para quem a pandemia ativou "uma hostilidade de um pelo outro" e, sobretudo, gerou "um descontentamento, uma frustração de cada corporação, de cada classe" pela forma como foi tratada durante o confinamento. Para José Gil é necessário abrir o debate, envolvendo os portugueses, e colocá-lo num plano essencial: "o que vamos fazer do nosso futuro? O que é que o Governo e o Estado têm preparado para criar uma sociedade melhor, mais justa, menos desigual?"

José Gil não crê, no entanto, que existam hoje propostas mobilizadoras nesse sentido. O Plano de Recuperação e Resiliência criado pelo Governo, defendeu, não tem "um objetivo bem definido" no sentido combater essas "desigualdades, de agilizar os problemas existentes". E carece "um consenso generalizado" para ser concretizado.