10.3.09

159 desempregados por dia em Janeiro

Carla Sofia Luz, in Jornal de Notícias

Mais de metade das pessoas sem trabalho são mulheres


Janeiro foi um mês negro para o distrito do Porto. Contam-se 4955 pessoas de 18 concelhos que ficaram sem emprego, o que corresponde, em média, a 159 desempregados por dia. As mulheres são as mais penalizadas.

A União de Sindicatos do Porto/CGTP-IN socorre-se das estatísticas do Instituto de Emprego e Formação Profissional - somando o número dos desempregados ao das pessoas sem trabalho e inscritas em programas ocupacionais e em formação - para denunciar uma subida de 4,85% no desemprego no distrito em apenas um mês. Em Dezembro passado, existiam 102 mil pessoas sem emprego. Volvidos 31 dias, esse número superou os 107 mil.

"Têm sido feitas muitas chamadas de atenção para a situação social no distrito do Porto. Apesar dos alertas, não têm sido tomadas medidas sérias para defender o aparelho produtivo. Só num mês, o resultado vai no pior sentido. São quase cinco mil trabalhadores no desemprego. É um crescimento muito grande", indica João Torres, coordenador da União de Sindicatos do Porto, assinalando que as "principais vítimas" continuam a ser as mulheres. Este responsável assegura que, dos 107 mil desempregados, quase 60% são do sexo feminino. E há outros aspectos que penalizam as mulheres do distrito. De acordo com a União dos Sindicatos do Porto, estas usufruem de salários inferiores em cerca de 25% às dos homens e, em média, o montante das pensões de reforma correspondem a 60% do valor das remunerações dos homens.

Comparando os números do desemprego de Janeiro de 2008 com os últimos dados de 2009, regista-se um aumento de 9,7%. Num ano, 9499 pessoas ficaram sem emprego. Mas, como realça a União de Sindicatos do Porto, só 4955 foram em Janeiro deste ano.

"É curioso verificar-se que, no período de um ano, houve um aumento brutal do desemprego em Lousada, em Paredes, na Trofa, em Penafiel, em Valongo e no Marco de Canaveses", esclarece João Torres. O concelho de Gaia continua a liderar, no entanto, a lista dos municípios com maior número de desempregados. Os dados actuais apontam para 21 mil pessoas sem trabalho. Seguem-se Porto e Gondomar (ver infográfico). Os sectores mais afectados foram a indústria têxtil, sobretudo o vestuário, a metalurgia e as indústrias eléctricas, a construção e o pequeno comércio.

"Uma boa parte deste desemprego resulta da não renovação dos contratos de trabalho e do trabalho temporário", explica João Torres. As estatísticas mostram ainda que, em Janeiro passado, o Instituto de Emprego e Formação Profissional conseguiu colocações para 567 pessoas. Mais de metade dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção moram no distrito, onde 30% da população vive na pobreza.

Em conferência de Imprensa, o coordenador da União de Sindicatos do Porto não poupa críticas à atitude do Governo "anestesiado e em campanha eleitoral" e do ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, por colocar-se ao lado dos patrões no estímulo à "redução dos salários dos trabalhadores".

A crise tem sido, afiança João Torres, "pretexto para todo o tipo de abusos". Reconhecendo a a existência de dificuldades graves, entende que "não falta quem se aproveite da situação" com a existência de uma "brutal campanha junto dos trabalhadores, dizendo-lhes que, para defenderem o emprego, têm de fazer todo o tipo de sacrifícios". Para João Torres, "há um vale tudo do patronato" neste momento. Por tudo isto, acredita que, na próxima sexta-feira de manhã, partirão mais de cinco mil pessoas do distrito para participar na manifestação de protesto no Restauradores, em Lisboa.

Emigrar ou estudar são saídas no meio da crise

"Se calhar a solução vai ser emigrar: tenho a casa para pagar, dois filhos menores, estou desempregada e a empresa do meu marido também está mal". Helena Silva não esconde o desânimo. Há precisamente um ano, foi uma das 110 que perderam o emprego, na sequência da falência da têxtil Summavielle Amorim, localizada na Póvoa de Varzim.

Aos 37 anos, trabalhou em fábricas de confecções desde os 13, e, na têxtil poveira, já tinha completado 17 anos de serviço. Do dia para a noite ficou sem nada. As muitas horas de laboração quase automática, sentada numa cadeira, valeram-lhe uma lesão na coluna, nunca comprovada como profissional, que a impede agora de trabalhar. Volvido um ano, tudo que recebeu resume-se a 7500 euros do Fundo de Garantia Salarial. Com o 5.º ano e uma crise sem par no sector têxtil da região, a costureira especializada não vê perspectivas de futuro: "A maior parte das minhas colegas estão a estudar nas Novas Oportunidades. Não temos estudos e não sabemos fazer mais nada".

Quando acabar o fundo de desemprego a que teve direito - um ano e meio - lá terá também que rumar às Novas Oportunidades para tentar um ofício diferente, mas com a empresa do marido em crise e dois filhos de 16 e 11 anos, teme ter mesmo que, como outras colegas, buscar no estrangeiro uma vida melhor.

"No têxtil, as fábricas de nome faliram e essas fabriquetas que há, não é qualquer um que aguenta. É um massacre: trabalham dia e noite para acabar encomendas, depois estão 15 dias em casa sem trabalho… Não dá", lamenta Helena Silva.