José Paulo Silva, in Correio do Minho
Ontem, na derradeira jornada do Roteiro para a Inclusão, o Presidente da República constatou, em Braga, o agravamento da situação social no distrito. No final de uma reunião com representantes de instituições de solidarie-dade social, nas instalações do Banco Alimentar Contra a Fome, Cavaco Silva revelou que a dimensão da crise não o surpreendeu excessivamente, reconhecendo que o Vale do Cávado é uma ‘das regiões mais atingidas’ pelo desemprego e outros fenómenos de exclusão social.
Nos contactos que estabeleceu com representantes sindicais e empresários, o Presidente registou ‘indicadores sociais de alguma gravidade’.
No encontro com instituições apoiadas pelo Banco Alimentar Contra a Fome de Braga, o Presidente da República foi informado do aumento do número de ‘novos pobres’ no distrito, consequência sobretudo da escalada do desemprego.
O padre Silva Araújo, em representação da Equipa Sócio-Caritativa dos Congregados, foi um dos que relatou a Cavaco Silva o aumento de dia para dia do número de pessoas que aparecem a pedir alimentos, roupas e apoios financeiros para o pagamento de rendas de casa, contas de água e luz, medicamentos ou mesmo prestações de empréstimos.
Nos últimos meses, fruto do contrato estabelecido com o Banco Alimentar, a Equipa Sócio-Caritativa aumentou de 62 para 80 o número de famílias apoiadas. Todos os meses, a Equipa dos Congregados distribui duas toneladas e meia de alimentos.
Em declarações aos jornalistas, Cavaco Silva lembrou que a inclusão social foi a primeira causa que abraçou como Presidente da República e que esta ‘questão ganhou actualidade na opinião pública e na agenda política’.
Depois do que constatou nesta ‘jornada voltada para o desemprego e os novos riscos de pobreza’, Cavaco concluiu que se justifica ‘novo apelo à consciência social dos portugueses’.
Perante os bons resultados do Banco Alimentar inaugurado em Outubro do ano passado, o chefe de Estado opiniou que, no actual quadro socio-económico, a atenção do curto prazo deve centrar-se em respostas de emergência social.
Após ver muito sublinhado o surgimento de ‘novos pobres e da pobreza envergonhada’, Cavaco Silva defendeu a necessidade de se manter a estabilidade política, admitindo estar 'preocupado e até um pouco triste com a situação que o país atravessa'.
No dia em que completou três anos de mandato preside ncial, o chefe de Estado garantiu que se vai «manter no mesmo rumo, o de tentar dar confiança aos portugueses».
Banco Alimentar distribui trinta mil toneladas por mês
Seiscentas famílias do distrito de Braga recebem actualmente genéros alimentícios de primeira necessidade através de 48 instituições de solidariedade social protocoladas com o Banco Alimentar Contra a Fome. No mês de Fevereiro, o Banco distribuiu quase 30 mil toneladas de alimentos, de que beneficiaram 2 744 pessoas.
Em Janeiro, contaram com a ajuda do Banco Alimentar 2 283 pessoas e, em Dezembro do ano passado, 1 776.
Isabel Varanda, presidente do Banco, confirma que ‘a procura tem aumentado, sobretudo de novos desempregados’.
Embora esta organização não faça entrega directa de alimentos, são cada vez mais as pessoas que a contactam. ‘O que fazemos nestes casos é encaminhar as pessoas para as instituições que apoiamos’, esclarece Isabel Varanda.
Até ao momento, o Banco Alimentar instalado na Rua da Confeiteira, em Palmeira, já distribui cerca de metade dos alimentos doados por consumidores de super e hipermercados em Novembro do ano passado. Para os dias 30 e 31 de Maio está agendada nova campanha de recolha.
Para um trabalho mais eficaz de apoio aos mais carenciados, o Banco Alimentar necessita sobretudo de equipamento que permita um melhor armazenamento dos alimentos. A instituição não dispõe, por exemplo, de um sistema de refrigeração que lhe permita recolher alimentos frescos.
A visita do Presidente da República foi vista pela responsável do Banco como ‘um incentivo para contInuar a trabalhar’.
Teresa Pereira, da comissão técnica do Banco Alimentar de Braga, adiantou que ‘muita mais gente podíamos apoiar’, existissem mais meios e equipamentos ao dispor dos dez voluntários que asseguram a distribuição de alimentos.
Enquanto aguardam que o armazém de Palmeira volte e encher com a próxima campanha de recolha junto das grandes superfícies comerciais, Teresa Pereira e a restante equipa apostam na recolha dos chamados ‘desperdícios industriais’, ou seja, de alimentos que por defeitos de rotulagem ou outros não podem ser vendidos ao público, mas que estão em perfeitas condições de serem distribuídos pelas instituições de solidariedade.
É para esta nova fórmula de combate à pobreza que os responsáveis do Banco Alimentar pedem a colaboração das empresas.


