Unidos pela justiça na repartição da riqueza

Paula Sá, Berlim, in Diário de Notícias

Visita à Alemanha. Cavaco Silva chegou ontem a Berlim para quatro dias de visita oficial. Na Alemanha, já em situação de recessão, Cavaco faz-se acompanhar por uma vasta comitiva de empresários, mas também de artistas. Em Osnabrück, o PR celebra os seus três anos de mandato

Cavaco e Köhler são ambos contra altos salários dos gestores

Na sua visita de Estado de quatro dias à Alemanha, o Presidente da República português vai ao encontro de uma "alma gémea", o homólogo alemão, na defesa de uma repartição mais justa da riqueza dos países e das empresas. Tal como no discurso de Ano Novo de 2008 Cavaco Silva criticou os altos salários dos gestores por comparação aos dos trabalhadores das suas empresas, o que deu brado em Lisboa, Horst Köhler não se inibe de dizer exactamente a mesma coisa aos gestores alemães. Num momento de profunda crise económica é provável que este seja um dos temas de conversa entre os dois chefes de Estado, quando se encontrarem hoje no Palácio Presidencial Bellevue.

Os "dois amigos", que partilham interesses económicos no chamado "grupo de Arraiolos" (ver caixa em baixo) têm reflectido sobre alguns dos problemas da economia de mercado e que estão bem patentes na origem da crise financeira mundial. Fonte de Belém sublinhou ainda que Köhler, que enfrenta eleições presidenciais, "é muito interventivo". À semelhança de Cavaco Silva fez com José Sócrates, Köhler vetou vários diplomas ao executivo da chanceler Angela Merkel, o que na Alemanha "é muito inusitado".

A crise económica, o desemprego que ensombra a Europa e a pobreza que alastra vão marcar o encontro de Cavaco Silva com Angela Merkel. Desta conversa que também decorrerá hoje, mas ao fim do dia, na Chancelaria Federal, em Berlim, nada transpirará para a comunicação social. Nem sequer se saberá se o Presidente da República partilha das críticas públicas do ministro dos Negócios Estrangeiros português, que integra a comitiva, à reunião de 22 de Fevereiro em Berlim, para a qual foram convidados os líderes dos seis países membros da UE no G20, a República Checa, na sua qualidade de presidente da UE, e os presidentes da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Eurogrupo. Luís Amado lançou uma séria advertência aos Estados membros economicamente mais importantes, incluindo a Alemanha, para deixarem de tomar decisões em nome da União Europeia.

Na ronda de contactos políticos, Aníbal Cavaco Silva será ainda recebido no Parlamento alemão, o Bundestag. Na quinta-feira, em Munique, terá um encontro com o ministro-presidente da Baviera, Horst Seehofer. E já num clima mais descontraído reencontrará em Osnabrück, o presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering. Os dois velhos "amigos" vão dar uma palestra aos alunos da Escola Ursulaschule sobre o futuro da Europa. O futuro do adiado Tratado de Lisboa talvez caiba nos seus discursos. Nesta escola secundária, que serve uma vasta comunidade de luso-alemães, esteve, entretanto, a decorrer um concurso "Portugal/Alemanha na Europa". Cavaco e Pötering vão entregar prémios sui generis aos melhores classificados: o primeiro prémio é uma viagem a Portugal com acompanhante; o segundo uma vista ao Parlamento Europeu; e em terceiro uma semana com um família, nada mais do que, portuguesa com certeza...