Célia Marques Azevedo, in Jornal de Notícias
Bruxelas lança campanha para reduzir discrepância de vencimento no mercado do trabalho
Portugal é dos países da União Europeia com menor discrepância salarial entre homens e mulheres. A diferença está na qualidade do trabalho, que torna as mulheres mais expostas a perdas de emprego em época de crise.
Na Europa, actualmente, as mulheres recebem pelo seu trabalho menos 17,4% do que os homens. Em Portugal a diferença era, em 2007, de 8,3%. As estatísticas mostram que em alguns países esta distância está a aumentar.
A Comissão Europeia (CE) lança hoje uma campanha com o objectivo de diminuir o fosso entre os sexos no mercado laboral, com especial ênfase nos salários que são pagos pelo mesmo trabalho, a homens e mulheres. A discrepância salarial é a diferença que existe entre o valor médio pago por hora a um homem e a uma mulher.
Nos últimos anos, a taxa de emprego das mulheres cresceu a um ritmo superior à dos homens, mas "mais quantidade" de emprego não significou "mais qualidade". As mulheres predominam em funções e sectores pouco qualificados, trabalham mais a tempo parcial e ocupam menos posições de responsabilidade do que os homens.
Bruxelas diz que o grande obstáculo do avanço na carreira pelo sexo feminino é a dificuldade em equilibrar a vida profissional com a familiar. Na UE, em 2007, a taxa de emprego das mulheres entre os 25 e os 49 anos com filhos até 12 anos era de 65,5%, aumentando consideravelmente para 77,9% no grupo das que não tinham qualquer dependente. Neste grupo, Portugal regista uma das distâncias mais baixas da UE, não chegando a atingir um ponto percentual.
Entre os homens na mesma faixa etária acontecia o oposto. O grupo dos que tinham filhos até 12 anos compunha uma taxa de emprego de 91,7% enquanto apenas 84,4% dos que não tinham dependentes tinham trabalho. Portugal regista uma diferença de 8,4% a favor dos que têm filhos.
Bruxelas nota que a segregação começa logo na educação. Apesar de quase 60% dos licenciados serem do sexo feminino, elas estão em minoria nos cursos científicos e nas tecnologias, condicionando a perspectiva de carreira. Por isso, as mulheres imperam apenas em sectores "femininos" e com poucas possibilidades de ascensão a cargos de liderança. A CE diz a que "segregação ocupacional e sectorial" manteve-se quase inalterada na maior parte dos estados-membros, alimentando a diferença salarial entre ambos os sexos.
Bruxelas alerta para as consequências a longo prazo dos salários mais baixos para as mulheres. Elas estarão mais vulneráveis à pobreza, sobretudo as que fazem parte de famílias monoparentais, quando atingirem a idade da reforma vão receber complementos proporcionais ao salário, ou seja, mais baixos. Portugal não segue a regra europeia. Na faixa acima dos 65 anos, 26% de homens e mulheres estão no limiar da pobreza.
O vínculo laboral mais comum entre as mulheres é o contrato a termo o que, em época de crise, as coloca na linha da frente para potenciais despedimentos.
Um relatório do Fórum Económico Mundial sobre o mesmo tema para 2008 colocava Portugal em 73.º lugar, em 130 países, mostrando que o fosso entre homens e mulheres está a aumentar nos salários, mas também no acesso a oportunidades de trabalho.


