Por Paula Torres de Carvalho, in Jornal Público
Em simultâneo à caminhada organizada em Portugal, a marcha realizou-se em mais de 65 países
Bartolomeu, de sete meses, leva uma t-shirt vestida com palavras de apoio à Marcha Contra a Fome. Leva também um balão azul que o vento empurra enquanto avança entre várias dezenas de pessoas com chapéus cor-de-laranja. Olha assustado à sua volta, deita a língua de fora, talvez com calor porque o sol já queima.
Bartolomeu é o cão da família de Alexandra Seabra, psicóloga clínica, que se juntou à marcha para combater a fome no mundo e que se realizou ontem em mais de 65 países ao longo de 24 horas, em 24 fusos horários.
Promovida pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), das Nações Unidas, em Lisboa, a marcha partiu da Torre de Belém. Foi a quinta vez que esta iniciativa decorreu em Portugal, em Lisboa e no Porto, a partir do Cais de Gaia, em simultâneo.
Alexandra Seabra decidiu ir, levar a família e juntar-se aos amigos, porque "é uma causa nobre, porque é uma forma de passar uma manhã bem-disposta num sítio maravilhoso".
No ano passado, participaram na marcha, nas duas cidades, cinco mil pessoas e foi possível angariar 50 mil euros, o equivalente a 250 mil refeições escolares para crianças em todo o mundo, explica Eduardo Queijo, coordenador desta iniciativa.
Ontem, o número de pessoas parecia ser menor que em anos anteriores, o que Eduardo Queijo entendia como "compreensível" face à crise. Mesmo assim, muitas famílias marcaram presença, como a de Zélia, de Lisboa, analista de crédito num banco, o seu marido, Fernando, engenheiro de telecomunicações, e os três filhos: a Maria, oito anos, que veio "ajudar as crianças", e os seus dois irmãos gémeos, o António e o Afonso, de cinco anos.
"Já participamos há muitos anos", diz Zélia, explicando: "É para lhes mostrar que há crianças que não têm nada, faz parte de uma educação para os valores".
Vieram pessoas de longe. Como Maria Luísa Valente, de 63 anos, doméstica, acabada de chegar de Tortosendo, Covilhã. "Eu, nestas coisas, tento ajudar sempre", afirma. Veio com o filho, Hélder Valente, de 36 anos, bancário.
Ao inscrever-se na marcha pelo preço de cinco euros, cada participante contribuiu para a distribuição de 25 refeições escolares de crianças que vivem nos países mais pobres do mundo.
Entre os "marchantes", via-se também gente ilustre, como Fernando Nobre, da Assistência Médica Internacional e candidato presidencial, e o médico Gentil Martins, representante da Associação de Atletas Olímpicos Portugueses. "É uma causa justa e necessária. O problema da fome é gravíssimo e é essencial ser solidário", frisa.
"Join us to end child hunger" lê-se nas costas das t-shirts que muitos jovens envergam, um apelo para que todos se unam para acabar com a fome. Alguns aproveitam para participar de bicicleta.
Segundo a Organização das Nações Unidas, mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo vivem em estado de subnutrição. A maioria encontra-se em países em vias de desenvolvimento onde uma em cada sete pessoas se deita com fome e uma em cada três crianças apresenta problemas de saúde devido a má nutrição.Em cada seis segundos, morre uma criança com fome no mundo.


