11.6.10

Parceiros sociais unidos após apelo de Cavaco

por Manuel Carlos Freire e Paula Sá, in Diário de Notícias

No seu discurso do 10 de Junho, o Presidente apelou à concertação social para enfrentar a crise. Aos políticos pediu o mesmo. Até porque o País chegou a uma "situação insustentável".

O Presidente da República desafiou ontem patrões e sindicatos a estabelecerem um "pacto de unidade" para enfrentar a crise económica. As confederações patronais e as centrais sindicais vão mesmo encontrar-se nos próximos dias, mas há divergências aparentemente inultrapassáveis.

A CGTP mostrou-se ontem desiludida com o discurso de Cavaco Silva no Dia de Portugal, pois "há questões essenciais na actual situação" de crise que ficaram omissas. Ao contrário da concordância com a mensagem presidencial expressa ao DN pelos líderes da CIP, António Saraiva, e da AIP, Rocha de Matos, o líder da CGTP, Carvalho da Silva, afirmou que o Presidente "não identificou as causas e os responsáveis" da crise e "não falou na repartição dos sacrifícios de forma justa, entre os que se apoderam da riqueza e os explorados".

Mas o Presidente usou a frase "repartição equitativa e justa" dos sacrifícios, pedindo um "sentido claro e transparente" nas medidas adoptadas para que se percebam os "objectivos que se perseguem". "Quanto mais se exigir do povo, mais o povo exigirá dos que o governam", avisou Cavaco Silva.

Sobre a necessidade apontada pelo Chefe do Estado de haver compromissos, Carvalho da Silva - que vai reunir-se 2.ª-feira com os responsáveis da CIP e, em data a agendar, com os da CCP - mostrou-se cáustico: "Não pode haver compromissos sobre bases falsas, como se todos tivéssemos as mesmas responsabilidades" na crise. Além disso, Cavaco "disse zero" sobre políticas de crescimento económico e criação de emprego.

António Saraiva apoiou o discurso de Cavaco, lembrando que a CIP já "fez um apelo aos sindicatos" para se chegar a acordo em matérias como a da contratação colectiva. Rocha de Matos, da AIP, adiantou que os esforços de todos "devem convergir" para haver consolidação orçamental, competitividade das empresas e criação de novos empregos.

No discurso do 10 de Junho, em Faro, Cavaco considerou o desemprego "o maior flagelo da economia" e afirmou que a melhoria da competitividade é decisiva para a criação de postos de trabalho. Num apelo à coesão nacional, social, territorial e geracional - "Portugal tem de ser um país de justiça para todas as idades" -, Cavaco preferiu distribuir as responsabilidades por toda a sociedade.

Mas nessa tarefa de "mostrar ao mundo que somos um país credível" Cavaco atribuiu particulares responsabilidades aos agentes políticos, governantes, deputados e autarcas. E foi para eles, em particular para o Governo, que lembrou: "Como avisei na altura devida, chegámos a uma situação insustentável. Temos pela frente grandes trabalhos, enormes tarefas, inevitáveis sacrifícios."

O primeiro-ministro aplaudiu pouco estas palavras e, no fim da cerimónia, divergiu do Presidente: "Estamos numa situação de dificuldade, como estão todos os países europeus, mas não estamos numa situação insustentável."

Cavaco deixou ainda dois recados: "Não é tempo de crispações" (talvez o mais dirigido ao PS e ao Executivo) e "este não é o tempo para querelas partidárias ou quezílias ideológicas que nos possam distrair do essencial" (o mais vocacionado ao PSD).

O secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, afirmou que o seu partido já mostrou, através do acordo com o Governo para as medidas de austeridade, que não caminha pela via da hostilidade a um Governo que, apesar disso, "já não faz sentido".

PCP e BE teceram críticas ao Presidente, com Francisco Louçã a acusar Cavaco de ter um discurso "socialmente arrogante", enquanto o CDS secundou o apelo à repartição justa dos sacrifícios.