25.7.11

Deslocados 'ad aeternum' em campos humanitários africanos

in Sol

Milhares de deslocados no Corno de África correm o risco de ficarem «eternamente» nos campos humanitários caso não recebam apoios que lhes permita adaptarem-se ao clima adverso e voltar a cultivar as suas terras, alerta uma responsável da FAO.

O alerta foi lançado pela chefe do serviço de operações de emergência para a África, América Latina e Caraíbas da Organização da ONU para Agricultura (FAO), a portuguesa Cristina Amaral, a poucos dias de se realizar, em Roma, uma reunião de urgência para responder á crise alimentar no Corno de África, onde a fome e a seca ameaçam a vida de cerca de 12 milhões de pessoas.

A «tragédia humana» poderia ter um impacto minimizado, critica Amaral, se os governos dos países afectados (sobretudo a Somália, mas também o Quénia, Etiópia e Djibuti) e os parceiros internacionais tivessem reagido aos alertas que a FAO começou a lançar a partir de Outubro de 2010, altura em que «apareceram os primeiros sinais de seca na região», já considerada a pior dos últimos 60 anos.

À Lusa, a especialista lembra que as secas nesta região, situada no nordeste do continente africano, são recorrentes, mas salienta que este ano o cenário, sobretudo no sul da Somália, atingiu «proporções catastróficas», visto que as populações naquela zona já perderam «a anterior e actual colheita».

De acordo com Cristina Amaral, para evitar que a situação fique «fora de controlo» – além da ajuda humanitária imediata aos mais necessitados – é «imprescindível» que «mais verbas internacionais sejam canalizadas para facultar às populações afectadas, sobretudo no sul da Somália, os meios necessários para que não tenham de abandonar as suas terras e aldeias».

Quanto à situação dos milhares de somalis que foram obrigados a refugiar-se nos campos de Dadaa, no Quénia, ou de Dolo Ado, no sudoeste da Etiópia, a portuguesa é peremptória: «Se estas pessoas não voltarem às suas terras e não tiverem acesso a sementes e a outros meios para replantar os seus campos até Outubro, também não haverá colheita em Janeiro. Sem ajuda, estas pessoas podem ficar eternamente dependentes dos campos em que se refugiaram», alerta.

O mesmo risco correm milhares de pessoas que, no nordeste do Quénia e no sudeste da Etiópia, dependem «quase exclusivamente da pastorícia, se não conseguirem alimentar o seu gado e continuarem a perder mais animais», acrescenta.

A ONU decretou na quarta-feira passada oficialmente a situação de crise de fome em Bakool e Lower Shabelle, duas regiões do sul da Somália, algo que não acontecia desde 1992. Estas regiões são controladas pela milícia islâmica radical Sehbab, o que tem dificultado o trabalho humanitário no terreno.

Cristina Amaral espera que na reunião de segunda-feira os parceiros internacionais recuperem o «tempo perdido», isto é, que cheguem a consenso «quanto à gravidade da actual situação» e determinem «uma resposta conjunta» para ajudar as populações afectadas.

Para a responsável da FAO, a «única solução real a longo prazo» passa por canalizar «mais verbas às comunidades para que estas possam adaptar-se ás condições climatéricas adversas e reforçar os seus meios de subsistência».

Lusa/SOL