in Jornal de Notícias
O número de sobre-endividados atingiu em agosto o maior valor desde janeiro e em termos homólogos, com o desemprego, os cortes salariais e o não pagamento de horas extraordinárias no topo da lista das causas, segundo dados da DECO.
Só em agosto, habitual mês de férias, chegaram à Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) 547 processos de sobre-endividamento, acima dos 381 processos recebidos em julho e dos 379 registados no mesmo mês do ano passado, revela o boletim estatístico de agosto de 2012 do gabinete de apoio aos sobre-endividados (GAS), a que a Lusa teve acesso.
Ao todo, de janeiro a 31 de agosto, chegaram à DECO 3.576 processos, o que compara com os 2.865 recebidos em 2011 e os 1.904 em 2010. Em 2000 o número rondava os 152 processos.
O desemprego continua a ser a principal razão do sobre-endividamento, representando em agosto deste ano 37 por cento dos casos enviados à DECO.
Segue-se a deterioração das condições laborais - onde estão incluídos os cortes salariais, o não pagamento de horas extraordinárias e os atrasos no vencimento - a tocar os 30 por cento.
Os cortes salariais representam já 58% dos processos relativos à deterioração do mercado de trabalho, seguidos pela redução de horas extraordinárias, correspondente a 32%, e os atrasos no vencimento, relativos a 9 por cento.
"Aquilo que verificamos é que as famílias estão a sofrer mais, do ponto de vista financeiro. O desemprego, os cortes salariais e o não pagamento de subsídios têm vindo a aumentar e é uma das razões para este aumento muito significativo do número de sobre-endividados", disse à agência Lusa a coordenadora do gabinete de apoio ao sobre-endividado da DECO, Natália Nunes.
O "divórcio/separação" ocupa agora o terceiro lugar da lista das causas para processos de sobre-endividamento, com 11 por cento dos casos, substituindo o item "fiador/penhoras", uma situação nova em agosto, e que "não se verificava nos meses anteriores", frisa Natália Nunes.
Depois, seguem-se os itens "alteração do agregado familiar (9%), a "doença" (8%) e o "fiador/penhoras" (5 por cento).
De acordo com os dados da DECO, em agosto a média de número de créditos por cada processo rondava os seis, sendo os créditos pessoais, o cartão de crédito e o crédito à habitação os tipos de dívida com mais pedidos de intervenção.
Aquando do pedido de intervenção verificou-se ainda que apenas 26 por cento do crédito estava regularizado, encontrando-se os remanescentes 74 por cento em incumprimento.
No que diz respeito a pedidos de informação, a DECO revela que em agosto também recebeu 524 solicitações, sobretudo provenientes de Lisboa (35,7%), Setúbal (15,9%), Porto (14,7%) e Faro (7,1%).