por Ana Carrilho, in RR
Hélder Gabriel trouxe a mãe para casa quando percebeu que tinha Alzheimer
Nunca Portugal teve tantas pessoas com mais de 65 anos. A falta de respostas sociais obriga muitos filhos a acolher os pais para casa, a única forma de lhes darem os cuidados de que necessitam. Esta é a história de como o Alzheimer trocou as voltas a uma família.
Há sete meses, a vida de Hélder Gabriel mudou radicalmente. A mãe, que tem a doença de Alzheimer, deixou de poder estar em casa sozinha e o pai não lhe dava a necessária assistência. Já não bastavam as visitas diárias: levou os pais, com mais de 80 anos, para sua casa.
Hélder contou à Renascença quando percebeu que tinha que tomar essa decisão: “Quando a minha mãe começou a sair para a rua a altas horas da madrugada, umas vezes em pijama, quando não tomava a medicação atempadamente, quando não fazia a higiene, quando não se alimentava convenientemente... Tudo isso passa ao lado de quem esta a viver com ela, porque parte do princípio de que faz, não anda a controlar. Eu não estava preparado para isso”.
Hélder Gabriel assume que, de início, não foi fácil lidar com a situação. “Foi muito complicado. O primeiro mês e meio, ela estava 24 horas em minha casa, não estávamos preparados”. Hoje, é diferente: “Agora, as coisas estão mais facilitadas, porque a minha mãe vai para o centro de dia, às 8h30, e às quatro da tarde volta para casa”.
A vida familiar mudou e, forçosamente, também mudaram por completo as rotinas. “Deixamos de ter a nossa privacidade, deixamos de poder ter as nossas conversas, as nossas discussões, o nosso espaço”, diz. Para Hélder Gabriel, a vida social praticamente também desapareceu.
Cuidar dos pais e, sobretudo, da mãe transformou-se numa tarefa quase a tempo inteiro. Hélder conseguiu uma vaga para mãe no centro de dia em mês e meio, mas lamenta que a resposta para pessoas com doenças do foro neurológico seja tão escassa.
Nunca Portugal teve tantas pessoas com mais de 65 anos como agora. O envelhecimento crescente da população é uma realidade num país que conta actualmente com mais de dois milhões de idosos.
A falta de respostas sociais obriga muitos filhos a levar os pais para casa, a única forma de lhes darem os cuidados de que necessitam.
Esta é uma das questões que vai estar em debate a partir desta sexta-feira, em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, numa mega conferência sobre o envelhecimento e o conflito de gerações, desigualdades, povoamento e recursos, promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.