5.9.13

Crise motiva lotação esgotada na feira da vandoma

Carla Sofia Luz, in Jornal de Notícias

A Vandoma está a abarrotar. A crise ressuscitou a feira nas Fontainhas (Porto) e hoje falta espaço para tantos vendedores. Quem não tem lugar pago, chega ao bairro de madrugada só para ter onde pôr a banca.

Os primeiros feirantes atracam às três horas da madrugada de sábado nas Fontainhas. Aqueles que não perdem a noite de sono acomodam-se nos buracos que sobram nas ruas da envolvente e até nas escadas do Passeio das Fontainhas. Acrescentar uns "trocos" ao magro orçamento mensal é a motivação da maioria - muitos reformados, desempregados e trabalhadores ocasionais.

Alguns até trazem os objetos que ainda fazem falta em casa. A necessidade dita o negócio. Daniel e a mãe, Maria Celeste, reconhecem as exigências da pobreza em algumas bancas. "A feira está maior, porque há mais necessidade. Nota-se que há gente a vender coisas que, se calhar, ainda lhe fazia falta em casa", garante Daniel.

Foi por "brincadeira" que estendeu, pela primeira vez, o lençol no chão para vender artigos que não usava. Ficou-lhe o "vício" e convenceu Maria Celeste, desempregada e antiga peixeira, a acompanhá-lo. "É uma maneira de ganhar um dinheiro extra. Mas está complicado. As pessoas também não têm dinheiro para gastar", lamenta Maria. No entanto, o crescimento da feira está a trazer mais mirones. Muitos a ver, nem todos a comprar. Com cinco euros, é possível levar um saco cheio para casa.

Os preços são atrativos. Há roupa a 50 cêntimos e pequenos brinquedos e livros por um euro. A generalidade dos artigos vende-se abaixo dos dez euros, embora haja produtos mais caros. Os clientes regateiam e, se não for barato, ficam na banca. "Se passar os cinco euros, já é mais difícil vender", confidencia Margarida Silva, motivada pelas amigas a experimentar a Vandoma. "Eu fazia limpeza na casa de uma senhora que faleceu. Não sabia o que fazer com as coisas e vim aqui vendê-las, contra a vontade do meu marido. Foi há três anos. Entretanto, ele começou a ficar sem trabalho na construção civil e agora gosta mais disto do que eu", diz.

A venda de roupa e de produtos eletrónicos já foi chão que deu uvas. Os brinquedos, as latas vintage, os livros muitos antigos e as ferramentas estão entre os bens mais desejados. Mas, nas ruas das Fontainhas, sobra pouca margem para a imaginação. Vende-se de tudo, e não só velharias e objetos usados, como mandam as regras da Câmara do Porto: há artigos novos, ovos, fruta, hortaliças, DVD piratas e até cães à espera de comprador.