9.9.13

Emigração para Inglaterra duplicou no primeiro trimestre

Dina Margato, in Jornal de Notícias

O Reino Unido é o destino de eleição dos portugueses neste momento. As entradas sobem a bom ritmo. Duplicaram no primeiro trimestre. E só no ano passado 20 mil inscreveram-se na Segurança Social.

Em 2012, foram 20 443 os que se registaram no Departamento de Trabalho e Pensões, inscrição dependente de uma morada, que pode ser a de um amigo onde pernoitam provisoriamente. No ano anterior, tinham sido 16 350. Em 2007, eram 12 mil. Os últimos números fornecidos pelo Reino Unido ao Observatório da Emigração dão conta de 9518 inscritos só no primeiro trimestre deste ano, valor francamente superior ao de 2012, em idêntico período: 5420.

São enfermeiros, pertencem ao setor financeiro e à Banca, engenheiros informáticos. Estes últimos conseguem trabalho num mês. O emigrante que escolhe o Reino Unido é qualificado, 20% dos que estão em Inglaterra e País de Gales têm formação superior; média de idade nos 34 anos; quanto ao género, a distribuição é equilibrada, 50%/50%.

Um grande número parte na expectativa de trabalhar na sua área, de poder progredir na carreira e valoriza a qualidade de vida: proteção social e poder fazer planos de viagem. A poupança deixou de ser prioritária. Até porque os gastos em casa e transportes são elevados.

No retrato de Cláudia Pereira, que está a estudar o fenómeno no âmbito do seu pós- -doutoramento, entram ainda os portugueses que começam por trabalhar em bilheteiras de teatros, restaurantes, que partilham casa com outros portugueses ou emigrantes de outras origens, enquanto procuram um emprego à medida do seu currículo. Muitos conseguem-no.

Cláudia Pereira, investigadora do CIES, Centro de Investigação e Estudos Sociais, e colaboradora do Observatório da Emigração, justifica a afluência recorde de portugueses "pela coincidência entre a recessão generalizada da Europa e o facto de o Reino Unido manter oportunidades de trabalho, principalmente para emigrantes qualificados". O desemprego está nos 7,7%, enquanto em Portugal se situa nos 16,5%. "O Reino Unido promete mobilidade....Há pessoas que já estavam a trabalhar na área delas e não conseguiam progredir na carreira e aqui têm possibilidade. Há outros que nem sequer conseguiam trabalhar na área delas, como é o caso dos enfermeiros". Em Inglaterra "existe mais meritocracia do que em Portugal. Basicamente querem a melhor pessoa para o lugar, para lhes dar o maior rendimento, logo maior lucro".

Em simultâneo, "tem vindo a escassear mercado de trabalho para emigrantes pouco escolarizados, porque não dominam o Inglês. Antes podiam trabalhar nas limpezas ou nas cozinhas dos restaurantes. Mas agora há outra nacionalidade, que domina o Inglês, a ocupar esses lugares. São os polacos.

Fogem da precariedade mas não querem fazer fortuna

Catarina Faria, 33 anos, era jornalista e Benjamim Maitre, o marido, 33 anos, professor de Educação Física, e estavam desempregados quando resolveram vender os carros para se aventurarem na procura de emprego noutro país.

Hoje, Benjamim trabalha como professor de educação especial e Catarina na área da Comunicação em Londres. Em parceria com dois amigos gerem ainda a página do Facebook Londrino, cujo objetivo é ajudar emigrantes conterrâneos.

Os sócios, Inês, 25 anos, formada em Desporto, e André, o namorado, 31 anos, curso de Educação Física, fugiram a regimes precários há mais de um ano. Em Londres, André é professor de Educação Física e Inês personal trainer e instrutora de zumba.

Em comum a ideia de que "os emigrantes são hoje completamente diferentes. Apercebemo-nos que 95% das pessoas que nos procuram são formadas e procuram exercer as respetivas profissões cá". Outra das especificidades, as prioridades. "A ideia de emigrar para fazer fortuna é uma utopia". Nas suas palavras, "os novos emigrantes não vêm com o objetivo de juntar fortuna, pelas simples razão que hoje procura-se ter qualidade de vida". Usufruir da oferta cultural de Londres, dizem, e não abdicar do conforto da habitação, o mais caro em Londres.