Por António Ribeiro Ferreira, in iOnline
Banco Central Europeu mantém taxa de juro directora nos 0,5%. Economia da zona euro cai 0,4% este ano e sobe 1% em 2014
Água na fervura que grassa em certos sectores sobre a evolução da economia europeia a curto e médio prazo. Foi este o tom da intervenção de Mario Draghi, presidente do BCE, no final do conselho de governadores de ontem, que decidiu manter a taxa de juro directora nos 0,5%. Os dados relativos ao segundo trimestre, em que a zona euro e a generalidade dos seus membros, como Portugal, registaram crescimentos em cadeia, geraram uma onda de optimismo em muitas capitais, com alguns responsáveis a decretarem o fim da crise. Em Espanha, por exemplo, o facto de o desemprego ter descido 31 pessoas em Agosto, levou o ministro da Economia, Luis de Guindos, a lançar foguetes sobre a retoma económica e o fim da crise.
Acontece que ontem Mario Draghi admitiu que a economia da zona euro vai cair menos este ano, 0,4% de contracção em vez dos 0,6% da previsão anterior, mas reviu em baixa o crescimento para 2014 de 1,1% para 1%. O presidente do BCE alertou para os factores negativos que podem afectar a economia europeia, mas também mundial, nomeadamente a subida de matérias-primas como o petróleo, se a intervenção militar dos EUA na Síria provocar um conflito regional.
Reduzir défices Na mesma linha de pôr água na fervura nos optimismos gerados pelos resultados do segundo trimestre, o presidente do BCE insistiu na necessidade de os países manterem políticas de redução dos défices e não entrarem outra vez pelos caminhos que levaram à presente crise económica e financeira, com dívidas públicas acima do razoável: "Apesar de o banco central garantir taxas de juro baixas por quanto tempo for necessário, isso não deve ser interpretado pelos governos como algo que permita baixar os esforços de consolidação orçamental."
Juros acima dos 7% Os avisos à navegação de Mario Draghi aconteceram num dia marcado pela subida dos juros da dívida da maior parte dos países europeus, com destaque para a Alemanha, que ultrapassaram os 2%, um máximo de 17 meses. Este facto, que pode estar associado à quebra inesperada de 2,7% das encomendas à indústria alemã, teve um efeito em cadeia e atingiu fortemente a dívida portuguesa.
A yield da dívida com maturidade a 10 anos atingiu mesmo os 7,001%, de acordo com as taxas genéricas da Bloomberg, superando a fasquia dos 7% pela primeira vez desde 18 de Julho, quando o país estava em plena crise política. A subida é de 21 pontos-base só na sessão de hoje nos títulos a 10 anos, sendo um pouco inferior nos prazos mais curtos. O juro da dívida a cinco anos avança 17 pontos-base, para 6,35%. Em todas as maturidades acima de 4 anos a "yield" é superior a 6%. No prazo a dois anos o juro está em 5,25%.
Isto acontece em Setembro de 2013, o mês em que Portugal deveria, de acordo com o Memorando de entendimento e os desejos do governo, regressar aos mercados. E também acontece num mês em que a troika chega a Portugal para a oitava e a nona avaliações e o executivo prepara um Orçamento do Estado para 2014 com mais dúvidas do que certezas, interna e externamente.