Ângela Silva, in Expresso
Acabadinho de dar uma aula na Telescola, Marcelo Rebelo de Sousa improvisou uma conferência de imprensa para falar dos temas quentes do momento e divergiu da direita que diz que não há racismo estrutural em Portugal. "Há racismo em Portugal", diz Marcelo. "Mas há muita descriminação na sociedade portuguesa a merecer atenção". E "lutar não é destruir estátuas, é criar condições para reduzir desigualdades". Centeno Governador do BdP? "Não vejo problema". Apoios da UE? "Não estou otimista"
"Radicalizar é um erro enorme". Marcelo Rebelo de Sousa discorda de Rui Rio, que há dias defendeu que "não há racismo na sociedade portuguesa", mas acha "um erro enorme", uma "imbecilidade" e uma "perda de tempo" a forma simplista como a questão está a ser tratada.
"Há ou não racismo em Portugal? Há. Há setores racistas e xenófobos, como há setores que não o são", afirmou o Presidente da República aos jornalistas à saída de uma aula que foi dar na Telescola. "Mas uma coisa é analisar este tema seriamente", outra é destruir estátuas, um exercício que o Presidente classificou de "muito fácil, mas que não muda em nada as condições de vida das pessoas".
Tratar este assunto com seriedade pressupõe, segundo Marcelo, perceber que "há muitas descriminações na sociedade portuguesa que merecem atenção". A começar pela pobreza. E que "há aqui uma confusão enorme".
"Temos em Portugal dois milhões de pobres, eu vi como é que se vive no bairro da Jamaica, e lutar contra o racismo e contra outras descriminações passa por criar condições para reduzir essas desigualdades", afirmou o Presidente. "Não é destruindo História, é fazendo uma História diferente".
Da mesma forma que "destruir estátuas não é uma forma inteligente" de fazer este combate. Pelo contrário, diz Marcelo, "esse é um exercício muito fácil mas que em nada melhora a vida das pessoas". "Nunca gostei da ideia de destruir livros, obras de arte ou estátuas e se vamos por aí vai tudo, toda a História Universal", alertou.
Assumindo que, como Presidente da República, o seu papel "é unir" e travar radicalizações, Marcelo Rebelo de Sousa classificou de "imbecilidade e não só ignorância" a forma como vandalizaram a estátua do Padre António Vieira, que "perseguiu colonos e lutou pela independência". E lançou a pergunta: "Quando temos uma pandemia e uma brutal crise económica vamos transformar o tema sério das desigualdades e das descriminações em gestos que só incendeiam? O que é que ganhamos com isso. Parece-me uma perda de tempo", afirmou
Com a crise económica em pano de fundo, Marcelo comentou a entrada em cena do sucessor de Mário Centeno no Ministério das Finanças, congratulando-se com o facto de João Leão "corresponder à mesma linha" de rigor nas contas públicas. "porque é essencial para o futuro enfrentarmos a crise sem perdermos a noção do que é mportante a nível orçamental e sem entrarmos em derrapagens orçamentais".
Sem querer pronunciar-se sobre a lei que está a ser trabalhada no Parlamento para criar um período de nojo de cinco anos entre a saída de governantes e a sua passagem para Governador do banco de Portugal, Marcelo remeteu para mais tarde uma decisão sobre a lei mas lembrou o que já tinha dito. Que não vê problema em repetir-se o que já aconteceu "na monarquia, na ditadura e na democracia quando membros do Governo transitaram das Finanças para Governador do BdP".
Menos otimista com as ajudas da União Europeia, o Presidente deitou água na narrativa da "bazuca" que supostamente injetará milhões a fundo perdido na economia portuguesa. Pelo menos no que toca aos timings e à demora nas decisões "Não estou otimista", afirmou Marcelo, "é muito cedo para termos fumo branco"