5.8.20

Economia 43% das empresas de restauração e bebidas pondera a insolvência

Ana Sofia Santos, in Expresso

Inquérito da AHRESP revela que a incapacidade para fazer face às despesas não deixa outra hipótese aos empresários. Cenário de crise no sector “intensifico-se”, apesar do início da retoma da atividade económica e de estarmos em período de época alta 

“No início da retoma, e em pleno período da tradicional ‘época alta’, a crise já instalada na restauração e no alojamento intensificou-se” é desta forma que a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) inicia um comunicado a dar conta dos “resultados verdadeiramente alarmantes” do seu inquérito mensal às empresas.

No total, a organização obteve 1377 respostas válidas, numa auscultação feita entre 31 de julho e 3 de agosto, que traçam um “cenário sem esperança para milhares de empresas e dezenas de milhares de postos de trabalho”.

No sector da restauração e bebidas, 43% das empresas ponderam avançar para insolvência, “dado que a esmagadora maioria refere que não irá conseguir suportar os encargos habituais, como pessoal, rendas, energia, fornecedores e outros, a partir do mês de agosto”. No caso dos espaços de animação noturna (bares e discotecas) a realidade é mais grave: 62% dos operadores estão à beira de atingir uma situação em que já não são capazes de fazer face às obrigações assumidas.

A AHRESP adianta ainda que os inquiridos frisam que “a faturação do mês de julho foi avassaladora”, com 75% das empresas a registarem perdas acima dos 40%. No que respeita aos salários devidos no mês que passou, o inquérito revela que mais de 16% dos empresários não conseguiram remunerar os trabalhadores e que 14% só pagou parcialmente.

“Com esta realidade, 16% das empresas já efetuaram despedimentos desde o início do estado de emergência e mais de 30% das empresas assumem que não vão conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final do ano”, refere a associação.

Sobre os apoios ao sector, 44% dos inquiridos pretendem recorrer aos novos mecanismos de apoio à manutenção dos postos de trabalho e 52% destes irá optar pelo apoio à retoma progressiva e 48% pelo incentivo extraordinário à normalização da atividade (cujas candidaturas se iniciaram ontem, terça-feira). No que toca a medidas de âmbito financeiro, 54% das empresas recorreram a financiamento, com 84% a terem o processo aprovado. Por outro lado, 39% dos empresários indicam que irão recorrer à nova linha de crédito dos mil milhões de euros.

Alojamento turístico também permanece em maus lençóis

No sector do alojamento turístico o retrato não destoa e é “igualmente alarmante”. “Durante todo o mês de julho, 27% das empresas não registaram qualquer ocupação e 20% indicou uma ocupação máxima de 10%. Estes resultados traduzem-se numa quebra homóloga superior a 90% na taxa de ocupação, referida por cerca de 36% das empresas”, indicam os dados do inquérito da AHRESP.

E agosto não augura melhorias. Aliás, “indicia resultados muito preocupantes, pois 19% das empresas não esperam uma taxa de ocupação acima dos 10%, e mais de 24% das empresas perspetivam uma ocupação entre 10% e 30%”.

O que leva 17% dos agentes económicos a equacionarem ter de avançar para insolvência, “caso não consigam suportar todos os encargos”.

Quanto aos vencimentos devidos aos colaboradores, mais de 22% das empresas não conseguiram efetuar o pagamento dos salários em julho e 9% só o fez de forma parcial. Além disso, com esta realidade, “cerca de 15% das empresas assumem que não vão conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final do ano, e 61% das empresas ainda não sabem se vão conseguir manter a totalidade dos seus trabalhadores”.

No caso dos apoios à manutenção dos postos de trabalho, apenas 25% sinaliza a intenção de usufruir deste mecanismo, enquanto 31% das empresas recorreram a financiamento (dessas, 86% tiveram luz verde da instituição financeira).

A AHRESP adianta ainda que os dados nacionais, quer da restauração e bebidas, quer do alojamento turístico, “não evidenciam diferenças muito significativas entre as várias regiões”, sendo que esta avaliação foi feita nas cinco regiões do continente (Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve) e nas duas regiões autónomas (Açores e Madeira).