Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor acredita que a crise gerada pela covid-19 "fez com que muitas pessoas vivessem a pobreza energética pela primeira vez na sua vida".
A pandemia "aprofundou consideravelmente" as desigualdades existentes no acesso à energia, mas fez, também, com que "muitas pessoas vivessem a pobreza energética pela primeira vez na sua vida", afirmou, esta segunda-feira, o vice-presidente da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, no arranque da conferência internacional Making Decarbonization Fair. ""Já vimos isso em muitos países e estamos a vê-lo em Portugal. Com o mais recente confinamento, milhões de consumidores portugueses estão fechados nas suas habitações, energeticamente ineficientes, e a pagar mais pela energia ou a sentir o desconforto térmico para evitar o aumento das suas faturas de eletricidade", diz Luís Silveira Rodrigues.
Este responsável lembra os números oficiais, que mostram que quase 20% dos portugueses reconhecem que não têm meios para manter as suas casas devidamente aquecidas, um número "bem acima" da média de 6,9% da população europeia. "A realidade com a qual a Deco tem lidado ao apoiar o consumidor reside na descoberta de que a maioria dos agregados familiares se encontra em situação de pobreza energética, e isto não se deve apenas ao rendimento familiar. Blocos residenciais construídos de forma ineficiente, áreas urbanas com elevada densidade populacional, edifícios antigos sem capacidade de aquecimento ou refrigeração, e o uso de eletrodomésticos ineficientes, são responsáveis por maiores custos energético, criando barreiras ao bem-estar", frisa Luís Silveira Rodrigues.
Desde 2019 que a Deco participa com organizações de consumidores de nove Estados-membros e outras entidades no STEP - Soluções para Combater a Pobreza Energética, um projeto que pretende, além de disseminar as melhores práticas, ajudar os mais vulneráveis a economizar energia e a melhorar os seus padrões de vida. Nesse sentido, a Deco abriu, em novembro, um Gabinete de Aconselhamento em Energia. "Aconselhamos os consumidores sobre a forma mais eficiente de consumo energético, explicando-lhes como isso os pode ajudar a economomizar dinheiro, a melhorar a sua saúde e bem-estar e contribuir para a transição energética", diz este responsável. Mas é preciso mais. "Saudamos o Plano de Recuperação e Resiliência e a forma como aborda a pobreza energética, mas todas as medidas de renovação de edifícios só terão sucesso se forem inclusivas, acessíveis e transparentes, visto que há ainda uma gama diferente de barreiras ao investimento individual", defende o vice-presidente da Deco, que aponta a "complexidade do acesso ao financiamento", mas, também o facto de a maioria dos apoios estarem desenhados para serem concedidos por ordem de entrada, fazendo com que "só os consumidores informados e com maior poder de aquisição possam a eles aceder".
Organizada conjuntamente pela Deco com a Fuel Poverty Research Network, o Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade (CENSE) da Universidade Nova, e o ENGAGER - Energy Poverty Research and Action Network, a Conferência Internacional sobre Pobreza Energética e Descarbonização decorre em ambiente exclusivamente virtual, até quinta-feira, e conta com 360 participantes de mais de 43 países em todos os continentes.