Luís M. Faria, in Expresso
A sexta edição do IndieJunior tem hoje início no Porto, e os organizadores assumem um propósito educativo a vários níveis
Esta terça-feira, dia 25, começa no Porto o IndieJunior – Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil. É, por assim dizer, o irmão mais pequeno do IndieLisboa, que normalmente acontece por volta de maio. Enquanto este visa sobretudo o público adulto – embora também tenha uma secção chamada IndieJunior – o IndieJunior é expressamente destinado às crianças e jovens. Nas suas várias rubricas distribuem-se cerca de 45 filmes, em formatos que vão desde a animação e a ficção filmada até ao documentário.
“Temos filmes de muitos países diferentes, portanto trabalhamos com técnicas de animação muito diversas, e acho que isso só enriquece o nosso festival”, explica Jessica Pestana, uma das programadoras do IndieJunior. “Tentamos trazer propostas que diferem dos filmes mais comerciais, a que as crianças normalmente têm mais acesso. Para nós é muito importante formar para o cinema, mostrar novas técnicas, novos ritmos, e novas alternativas. Temos um trabalho prévio de pensar não só o cinema propriamente dito como as temáticas, de acordo com a faixa etária de cada aluno. Acho que as reações são boas. Temos professores e alunos que vêm desde a primeira edição do festival.”
O festival está muito ligado às escolas durante a semana. Conforme explica a programadora, estas “fazem uma inscrição prévia e assistem aos filmes em sala, embora este ano também exista a opção de ver online. É uma coisa que queremos um pouco combater, pois achamos que devemos privilegiar o cinema em sala, vê-lo nas melhores condições possíveis”.
Pobreza, refugiados, empatia
O IndieJunior decorre no Teatro Rivoli, na Casa das Artes, na Biblioteca Almeida Garrett, na Reitoria da Universidade do Porto e no Maus Hábitos. Este ano há duas longas-metragens em competição. Uma é A Traviata, Os Meus Irmãos e Eu, um filme francês que conta a história de uma família num meio social precário – quatro irmãos sem pai, e cuja mãe está doente. A história pretende ilustrar o poder da arte musical, no caso a ópera, para ajudar a mudar a vida das pessoas.
A outra longa-metragem em competição é A Travessia, um filme de animação desenhada em vidro e co-produzido por vários países: França, Alemanha e República Checa. Fala de dois irmãos refugiados e da viagem até ao país que os vai receber. Curta-metragem Naturezas Específicas Foto: DR
Há ainda a competição das curtas-metragens, com pequenos filmes agrupados por temas (Cores da natureza, Olhares sobre o mundo, Amizades nas Diferenças, Naturezas Específicas). Os júris, na verdade, são três: o júri oficial que atribui os prémios principais, o constituído por investigadores da Universidade do Porto que atribuem o chamado Prémio Impacto, e as pessoas que assistem aos filmes.
Educação a vários níveis
Todas as sessões com filmes em competição têm votação, e com base nela é atribuído o prémio do público. À margem da competição estão sessões como o Cinema de Colo (para bebés) e o Cine-Concerto (clássicos do cinema de há cem anos ou mais, acompanhados ao vivo por música do violetista José Vicente).
“Normalmente trabalhamos temáticas mais tabu, que são difíceis de trabalhar ou de falar na família”, explica Jessica Pestana. “Questões como o divórcio, por exemplo. Este ano temos questões como o civismo, a hospitalidade, a empatia. Além da Travessia, outros filmes trabalham essa temática.”
“Há também um filme intitulado A Mamã Está Como a Chuva, que faz parte de uma sessão chamada Pontes e Fronteiras, e fala de uma criança cuja mãe tem uma depressão”, acrescenta. “O filme é a perspetiva da criança, que não entende muito bem qual é o problema da mãe. Quisemos trazer esta questão da saúde mental, não na primeira pessoa, mas vendo como é que as crianças lidam com a saúde mental, com depressões, que são tão comuns agora e às vezes são tão difíceis de abordar e perceber. Os nossos filmes, além de educarem o gosto, de educarem para o cinema, pensam em temáticas que são pertinentes para a reflexão, para pensar sobre as coisas.”
Quando os filmes passam nas escolas, os estudantes, em princípio, veem-nos não nos seus computadores mas num ecrã dentro de uma sala. Pestana insiste que não é a solução ideal, mas sublinha: “achámos que era importante manter o formato online, pois era importante dar acesso”. “Esperemos que no próximo ano as sessões sejam todas presenciais.”