Teresa Castanho, opinião, in DN
Entre os estados membros da União Europeia, Portugal é dos países mais envelhecidos, onde cerca de um em cada quatro portugueses tem mais de 65 anos. Os dados provisórios dos Censos de 2021 revelam que Portugal está a ter um "duplo envelhecimento": um incremento expressivo da população idosa e uma redução do número de jovens. E como temos olhado para este fenómeno?
Este fenómeno resulta em vários fatores sociais positivos. Muitos de nós continuarão a trabalhar à medida que envelhece, a apoiar as suas famílias, a transmitir conhecimento e a contribuir para a produção de valor social e económico para a nossa sociedade. A imagem do idoso completamente dependente e incapaz está (ou deveria estar) completamente ultrapassada. No entanto, embora a longevidade seja uma conquista, também pode criar inúmeros desafios individuais e coletivos para fazer face às necessidades mais complexas da população envelhecida.
Com o "duplo envelhecimento" é necessário criar novas oportunidades de trabalho e de aprendizagem ao longo da vida, elaborar programas de participação ativa onde se sintam envolvidos na sociedade e úteis para com as outras pessoas, investir na avaliação e deteção atempada do risco de solidão e isolamento social, e incentivar intervenções preventivas na doença crónica e saúde mental.
A sociedade atual tem de refletir e antecipar estas e outras questões, ou arriscamos atingir as próximas décadas totalmente desprovidos de meios e sem qualquer política que nos garanta envelhecer com qualidade e acesso adequado aos serviços de saúde.
A investigação tem demonstrado que idosos mais escolarizados e com literacia digital tendem a ser mais eficientes na utilização de serviços de saúde e estão mais consciencializados para os benefícios do recurso a cuidados de saúde de qualidade. Os cuidados de saúde, os cuidados de longa duração e outros serviços que promovam uma vida saudável e independente precisam de funcionar adequadamente para as atuais e futuras gerações de idosos.
A promoção do envelhecimento ativo e saudável deve ser uma prioridade política e uma responsabilidade individual e coletiva, sendo de estranhar que neste período eleitoral o tema tenha ficado fora da agenda.
Tal como o demógrafo Chris Wilson afirmou "o século XX foi principalmente um século de crescimento populacional, o século XXI será de envelhecimento populacional". O impacto das tendências demográficas expressa-se lentamente, mas são necessárias políticas de longo prazo. São necessárias políticas para o futuro que comecem hoje - que transformem o envelhecimento da população numa oportunidade para a sociedade se reinventar.
investigadora no Centro de Medicina Digital P5 da Escola de Medicina da UMinho